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NADELSON COSTA NOGUEIRA JUNIOR

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Trópico de câncer…
Trópico de capricórnio…
Linha do equador…
Aurora boreal…
Você…

Se te roubasse um beijo,
Talvez me deste um tapa…
Se te tocasse os lábios,
Talvez se apaixonaste por mim…
Se te beijasse,
Talvez me resgataste…
Na escuridão do abandono.

Beijo teu não roubarei;
Não por timidez ou medo,
Mas por educação.
Afinal, o beijo teu…
Deve ser dado por conquista;
Pois, ao contrário da vida,
Seria um mero beijo…
Como os outros.

O beijo é muito mais…
Do que a mera troca de saliva,
Ou o toque rudimentar de dois lábios.
Ele deve ter sabor, cheiro e sentido.
Todo beijo deve ter compromisso,
Seja ele de afeto, amor ou carinho.
Todo beijo deve ser infinito em sua essência;
Para representar aquilo que sentimos.

Quando se beija,
O coração deve explodir como um sol nascente
Que acaba de surgir por si mesmo;
dando origem à noite e ao dia.
Quando se beija,
O sangue deve queimar como lava,
A alma deve se expandir ao oriente,
Os amantes devem se sentir em santidade
E invadidos pela alegria.

Por isso, beijo-te em sonho…
Beijo-te acordado e também dormindo.
Beijo-te em todas as esquinas;
Não desejando outros lábios;
Pois o beijo é um ato muito íntimo…
Que só quero dividir contigo e mais ninguém.
Logo te digo que meu beijo…
É um ato de compromisso.

Se, um dia, me roubaste um beijo,
Lembre-te de tudo que aqui foi dito.
Que esse beijo não seja de carência,
Ou por curiosidade reprimida…
Que ele tenha a intenção dos sonhos
E que seja o primeiro passo para eternidade a dois.
Porque só se pode ter uma única amante como oriente;
Enquanto o beijo, por si, (…)
Já não seria o bastante.

Talvez sejas assim o beijo teu…
Aldebaran, Órion, Via Láctea…
Um vulcão em erupção,
Uma estrela cadente…
Um terremoto destrutível…
Um sonho que não acordou…
Um momento que não aconteceu…
A pérgola entre o oriente e o ocidente….
Simplesmente você e eu.

Estar solteiro é triste,
Quando não se tem companhia.
Quando se perde o sorriso
E o invejável brilho nos olhos.

Estar solteiro é livre,
Com a liberdade do tamanho do mundo.
Mas a liberdade é o limite…
Para aquele que só quer amar.

Eu descobri que te amo…
E que, contigo, tenho coragem
De entregar meus punhos e minha alforria,
Pois do teu amor quero ser escravo.

Amo-te, sem jamais ter te beijado.
Amo-te, sem jamais ter te trocado uma palavra.
Amo-te, em devoção desigual,
Ignorando o tamanho de meu fardo.

Quando todos pensam que estou bem,
Estou intimamente mal!
Quando todos pensam que estou por cima,
Meu verdadeiro lugar é no fundo do poço!

Minha alma se desencanta de tristeza
Diante da malversação do mundo.
Às vezes, perco a vontade de continuar
E sonho com instante último de partir.

Tudo isso acontece,
Porque não estou junto contigo.
A liberdade me cobra o preço árduo…
A prestação contínua da solidão!

E continuo só…
À procura de ti.
E continuo só…
Sonhando com teu abraço.

Escrevo-te por astúcia…
Escrevo-te por curiosidade…
Escrevo-te na esperança…
De conter-me a ansiedade.

Faço-te cortejos e rimas…
Na pérgula da loucura.
Escrevo-te esta epistola…
Na tentativa de conter minha busca.

E, mesmo que receies o presente…
Nem tudo estar-se-á perdido;
Pois àquilo que escrevo é mais do que sinto…
É a decodificação da emoção no tempo.

E mesmo que seja isso um desastre,
Já consigo imaginar teu sorriso;
Considerando a escrita uma forma de arte,
Enquanto o escritor, uma pessoa sem juízo.

Hoje, foi a primeira vez que parei para pensar na importância do porta-retratos, pois, até então, não tinha dado a mínima atenção às fotografias e suas representações afetivas.

A maioria dos meus amigos tem porta-retratos no trabalho. Neles, estão as fotografias de seus cônjuges, filhos e demais pessoas queridas. Parece que é uma forma de manterem a pessoa sempre perto. Tal relação, às vezes, se confunde com a idolatria. O mais estranho é que, na cultura cristã, o mandamento diz que devemos amar o próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as coisas. Mas, eu não tenho a menor ideia de como é a forma e a imagem de Deus. Eu não tenho como colocá-lo num porta-retratos. O máximo que posso fazer, é me olhar no espelho, questionando meus atos e tentando me aperfeiçoar como ser humano.

Foi num desses momentos de autoquestionamento que conclui que deveria ter vários porta-retratos com fotografias do meu pai, da minha mãe, da minha irmã, do meu cachorro e do papagaio. Foi num desses também que constatei que ainda está faltando uma fotografia no meu porta-retratos, a da mulher amada, pois só se sente saudade na ausência, bem como, a carência na solidão.

Eu gostaria muito de completar o meu álbum de família e de ter mais um porta-retratos, porque, no final, o que importa não é a fotografia, mas a emoção que ela transmite. E assim, eu me sento, às vezes, à beira da cama, e fico admirando a fotografia da minha avó, lembrando de seus conselhos e do modo o qual ela viveu… Às vezes choro… Às vezes sorrio… Mas, sem dúvida, sempre fica a marca da saudade, pois, antes, eu tinha uma avó. Hoje, eu só tenho um porta-retratos.

Quando comecei a escrever este livro, eu não tinha a menor ideia de onde iria chegar ou o quê alcançar. Simplesmente, fui escrevendo aquilo que via, ouvia e sentia dentro do peito. A questão mais importante é que agora, olhando para a obra pronta e quase acabada; sinto que amadureci minha escrita, meus valores e objetivos. Eu sei que minha escrita poder-se-á ficar esquecida por um longo tempo, mas, chegará o dia em que seu conteúdo será revelado ao mundo, como um conhecimento que se anunciará por si próprio pela interpretação e abstração dos leitores.
Lembro-me duma noite destas em que eu andava de carro perdido com mais duas amigas. A cidade estava totalmente sem luz, enquanto chovia bravamente. Mas, nossas almas carentes necessitavam conversar. Logo, enquanto eu dirigia, conversarmos sobre tudo, até o momento em que o assunto se focalizou na maçonaria e naquilo que eu procurava numa mulher. Lembro-me ainda que estava divagando e dizendo que eu gostaria de encontrar uma mulher que gostasse de receber flores, de passear no parque, tomar sorvete, e que fosse dedicada aos seus valores familiares. Eu dizia também que a religião não fazia a menor diferencia desde que houvesse o respeito mútuo. Sei que, após minutos discursando sobre a mulher ideal, uma das minhas amigas se virou e retrucou: – Nada disso tem valor, se não rolar a química ou sexo. Eu fiquei aproximadamente uns dez minutos pensando naquilo. Minha outra amiga, que estava no banco de trás, havia me perguntado por quê eu estava tão calado. Foi quando, pela primeira vez, eu havia alcançado uma conclusão tosca, mas objetiva: Eu não estava procurando a mulher ideal, mas sim, a vagina virtuosa – o órgão sexual que carrega, consigo, as propriedades da mulher amiga, dedica à família e aos seus valores. Sem dúvida alguma, nada daquilo dito antes teria qualquer sentido sem a satisfação sexual.
Todavia, o questionamento continuou a se propagar pelo silencio da minha alma durante dias e noites; pois eu havia materializado o foco da mulher ideal. Entretanto, já era muito difícil para me relacionar com pessoas conhecidas… Imagine, então, como poderia tratar as mulheres da minha vida como vaginas! A conversa daquela noite foi mui importante para mim; afinal, eu tive a certeza de que gosto de discutir relação e de conversar sobre tudo com minha namorada. Eu prefiro desnudar a alma da mulher numa conversa, do que lhe arrancar a roupa no primeiro encontro. Eu prefiro idealizar o para sempre, a satisfazer-me sexualmente por um único instante. Descobri, naquela noite, que não sou um namorado canalha, e sim, um amigo; pois, nenhum relacionamento terá futuro se não se basear no princípio da amizade e da cumplicidade… Talvez seja por tal motivo que a maioria dos meus amigos de infância tenham se separado.

Quando decidi escrever sob essa folha,
Ainda não fazia idéia do meu destino…
Até então, eu buscava escolhas…
Quando, de supetão, esbarrei em teu sorriso…
E me perdi no negro de seus cabelos;
Pois, sem gesto ou palavras,
Hipnotizaste-me como jamais acontecera…
Seria um sonho?
Seria a idealização duma miragem?
Não importas… Afinal gostei…
Não sinto gosto doce assim já há muito tempo.
Isso, se algum dia já o senti…
Pois de ti não tive nada…
E já me faço por satisfeito em conhecê-la.

Mas que satisfação tola seria essa?
Ficar te admirando as escondidas…
Construí-la e guardá-la em sentimento…
No cofre imensurável de meu coração.
Seria tolice minha acreditar…
Que um simples mortal poderia guardar…
Àquilo que a cada instante aumenta e inflama;
Pois meu coração explodirá em lava…
E ejaculará sua ternura pelo infinito.
Pois, agora sei, de fato,
O motivo que surgem os vulcões.
Eles surgem de amor… Amor que queima…
Amor, esse, que arde a alma,
E que alivia o corpo.
É o amor em total introspecção.

Maremotos arrasam meus litorais em lágrimas.
Chuvas torrenciais indicam enchentes…
Agora vejo que meu povoado de emoções passa fome.
Enquanto a carcaça, os destroços apedrejam.
E quem reconstruirá meus caminhos?
Quem traçará a linha imaginária do Equador
Para redefinir o equinócio?
Quem verá novamente a aurora boreal?
Quem?
O estrago foi incalculável…
Não tenho mais contorno ou litoral…
Sou o resquício daquilo que um dia foi um arquipélago.
Não satisfeito, o divino me enviou um tornado de inspiração.
Consigo, veio uma tempestade poética…
Que, com suas letras, enfeitava o céu no finito.
E as letras pareciam e brilhavam como estrelas.
Elas formavam seu nome…
Enquanto caiam e iluminavam o horizonte.
Dos destroços, só se via a luz…
A luz de seu nome e do seu riso…
A luz daquilo que é somente seu.
E numa alegoria crítica,
Já me fazia transportado por um cometa.
Assim foi a viagem contigo…
Uma reconstrução de lendas e mitos.

Levantei um templo em nome do amor…
O mesmo, em ruínas, caiu.
Elaborei a mais bela estátua a Afrodite…
Ao barro, a deusa voltou.
Escrevi uma enciclopédia de poesias…
As folhas se transformaram em pó.
Escrevi seu nome numa pedra…
A pedra se tornou ouro,
Enquanto todo o sertão, ao redor,
Ganhou uma beleza jamais vista.
Pois assim foi a gênesis do paraíso.

Talvez, tal revolução literária tenha começado…
Antes do plano divino de meu nascimento.
Talvez, tudo já estivesse escrito nas estrelas…
Ou nas letras singulares de nossos nomes.
Talvez, eu tenha me apaixonado na sala de aula…
Ou em um comício político municipal de Rio Bonito.
Talvez, eu só quisesse o motivo para me aproximar…
Ou quem sabe, tenha sido tudo um acidente!
Quem saberá nessa vida?
Decerto, não vejo mais o mundo como antes…
Como não mais sou o mesmo antes de conhece-la.

Pela primeira vez,
Tive vontade de ter um porta-retratos…
E, nele, expor uma fotografia sua.
Pela primeira vez,
Tive medo de conversar ao telefone contigo.
Pela primeira vez,
Senti muito frio e não queria ficar sozinho.
Sonhei em pé e deitado,
Aguardando um telefonema seu…
Esperei um milagre que ainda não veio.
Escrevi seu nome várias vezes na folha de papel.
Senti-me adolescente, como jamais havia sido antes.
Pela primeira vez,
Tive vontade de esquecer todo o passado…
E recomeçar do zero, o presente.
Tive vontade de aprender a engatinhar, andar,
Falar, pedir, e até ficar de castigo!!!
Gostaria de voltar à escola e estudar tudo novamente…
Aprender o apreendido.
Adoraria sentir o prazer…
E a falta de prática do primeiro beijo;
Bem como, a simplicidade das palavras indecentes!
Mas, tudo isso é passado…
Uma parte se perdeu em escolhas…
Outra parte desapareceu da memória.

De fato,
Eu adoraria conhecer seus pais,
Segurar sua mão na rua,
Namorar no sofá da sua casa,
Além de tomar o bom café da futura sogra.
Andaria, a pé, da minha casa até a sua…
E não me queixaria.
Daria, sempre que possível,
Uma passadinha na sua casa após a faculdade.
Mataria algumas aulas só pelo prazer de estar contigo.
Assistiria os ursinhos carinhosos e a Luluzinha…
Passaria a ter um motivo maior na minha vida, você.

Talvez assim, eu me preocupe mais comigo…
Emagreça uns dez quilos,
Faça alguma luta marcial novamente,
Vá ao médico periodicamente para prevenção,
E recuse as demandas eleitorais do futuro.
Talvez, eu deixe de fazer tantos inimigos…
E aceite o mundo como o é.
Porque eu acho que chegou o fim da minha busca…
E a hora de começar um outro capítulo da minha vida,
O qual gostaria muito que ele tivesse seu nome…
Se Deus quiser, a futura mãe dos meus filhos.

Aliás, você tem compromisso para sábado à noite?
Porque o que vale é a tentativa…

Quero deixar de ser o cavaleiro que o sou.
Quero muito aprender a tocar banjo ou flauta
Quem sabe violino ou tambor!
Assim, transformaria o desastre em arte…
Exaltaria a coragem dos vivos durante o combate
E evocaria a lembrança dos mortos e de seus feitos.

Pelas tavernas, me embebedaria com os anões…
Enquanto aumentaria as estórias, os aplausos e as moedas.
Tocaria no intuito de iludir e fantasiar a todos…
Desde os humanos até os elfos…
Escutaria comentários aqui e ali…
Formando uma escolástica de informações.

Dormiria e acordaria nas tavernas.
A estrada seria meu destino.
Conheceria todos os lugares e culturas.
Conheceria o real e o imaginário…
O lúdico e o impossível.
Nos momentos de saudade dos amigos,
Visitaria seus respectivos túmulos;
Enquanto trovas, ali, nasceriam.

Meu banjo choraria de alegria e de tristeza.
Minha alma seria como um andarilho…
De festa em festa…
De bosque em bosque…
De praça em praça…
De taverna em taverna.
Em situações sublimes e raríssimas,
Tocaria a alma dos apaixonados no matrimônio puro.

Todo bardo é assim:
Sem teto próprio;
Sem grilhões afetivos;
Muito sorriso e brilho nos olhos…
Para essa categoria, não há tempo ruim;
Mesmo quando seu lado é derrotado.
Pois a música e a arte não têm lado ou religião…
São ofícios errantes que todos necessitam.
Logo, o mundo está para o bardo,
Assim como, a pena está para o poeta.

 

Todavia, após muito refletir…
Conclui que bardo não quero mais ser;
Pois os guerreiros têm trovas e cortejos fúnebres.
Seus nomes são lembrados e honrados na genealogia.
Suas espadas se transformam em cruzes…
Ou são herdadas aos seus filhos.
Não gosto da idéia de visitar túmulos…
Ou de tocar durante o recolhimento dos corpos.
Se for para tocar alguma coisa,
Que seja, somente, no átrio de minha casa.

Fatalmente, nunca presenciei qualquer enterro de bardo.
Se algum já aconteceu diante de meus olhos,
Passou-me totalmente despercebido!
Talvez, essa seja a sina do bardo:
– Viveu tanto a alegria e a música em vida,
Que sua morte se torna silenciosa por necessidade.
Talvez, a natureza artística exija isso de seu praticante,
Ou realmente a classe seja totalmente desunida.
Talvez, sejam todas as suposições…
O fato é que também nunca vi um banjo dormir…
Talvez, o bardo consiga a dádiva de ter filhos,
Mesmo, jamais tendo procriado de fato…
Esse é o grande mistério da arte,
Que a guerra jamais conseguirá compreender.

O vazio só tem sentido com o excesso de espaço.
O todo só existe com a determinação de limites.
Mas, o homem pode ser o todo e ao mesmo instante vazio…
Isso dependerá do tamanho de sua alma…
Ou do desprendimento de seu espírito.
Dependerá da maneira que vê o mundo e a si próprio.

Dessa forma, existem pessoas que se contentam com latas de sardinhas.
Outras que se satisfazem muito mais com caixinhas de fósforos.
Já temos àquelas que possuem latifúndios…
E são insaciáveis diante da necessidade tosca de preencher o vazio.
Para elas, o todo nunca será o bastante,
Até que se consuma a vida insanamente.

O paradoxo é a contradição que mantém o equilíbrio.
E assim, os seres humanos continuarão suas histórias,
Dando socos em ponta de faca,
Deitando em cama de pregos,
Ou comendo caquinhos de vidro.
Diante da falta do conhecimento de nós mesmos,
Nos tornamos criaturas teimosas e egoístas…
Um espaço infinito, limitado pela falta de imaginação.

Só há emoção onde existe pensamento.
No que você está pensando agora?
Não precisa me dizer.
Somente pense, sinta e reflita.

Sabe… Hoje, eu só gostaria que alguém precisasse de mim,
Assim como a noite necessita do dia…
Gostaria de estar em minha alcateia…
E fazê-la somente dela meu par.

Ser o mel para adoçar os lábios carentes e sisudos.
Ser a chuva para tocar-te a pele sem constrangimento.
Ser a oração e sair de dentro de ti…
Pois assim estaria no auge da contemplação.

Só gostaria de saber se alguém necessita de mais alguma coisa nesse mundo agora, do que eu de você?
E assim, te idealizo em vocábulos nunca ditos, porém digitados…
Toquei sua alma, sem jamais tê-la tocado o corpo…
Compartilhei de suas ideias sem ter, sequer, contigo conversado verbalmente…
De fato, me vi em ti; quando procurava a mim mesmo.

Em qualquer conflito,
Deve-se conhecer o inimigo,
Bem como, seus recursos e território.
Deve-se saber de sua água e comida…
De sua tecnologia e meios de comunicação.
De seu poder de ação e reação.

Em qualquer conflito,
Deve-se saber as forças e fraquezas…
Sua capacidade de invasão e de aceitação…
Sua manutenção e o movimento das tropas;
Pois, somente, assim,
Haverá a garantia da vitória.

Entretanto, como se fazer diante duma invasão consensual?
Pois assim é o relacionamento: – Uma invasão.
Ora o indivíduo ganha, ora o indivíduo perde território.
Ora ele é obrigado a partir e ceder terreno a terceiros.
Ora ele tem que retornar e reconquistar aquilo que é seu por direito;
Justificando a arte da guerra em nome do amor.

Pesquisei seu território e sua cartografia.
Conheço seus recursos naturais e suas fraquezas.
Poderia simplesmente invadir e decapitar toda a nação invasora;
Mas, não haveria dignidade isso…
Logo, posicionarei minhas tropas nas nascentes dos rios e dos seus afluentes.
Tomarei as lavouras e diminuirei suas fronteiras.
Só para testar a reação.

De fato, quero saber se você ainda sente alguma coisa por mim;
Se ainda deseja alguma séria na vida e com responsabilidade.
Quero saber como o relevo e o clima se comportarão diante do meu exército.
Então, se a campanha for promissora,
Começarei minha invasão do norte para o sul;
No intuito de que o inimigo saia sem máculas ou com rancores mínimos…
Para que lhe sobrem somente os pés e o chão;
Porque o bom general deve permitir que o inimigo fuja e conviva com a desonra.

Mas, se o relevo e o clima me recusarem…
Deixarei minhas peças preparadas e armadas nas fronteiras para o momento certo.
Afinal, em tudo nessa vida, existem momentos calculados.
Todavia, se o país e sua nação primitiva me ignorarem,
Partirei para outros países que me proporcionem retornos melhores…
E assim, marcharei de vila em vila…
De província em província…
Em busca do lugar certo para edificar a sede do novo governo.

Outrossim, quando se invade terras ricas e profundas,
Torna-se difícil invadir outras…
Quando se apaixona por alguém, pode-se estar dominando o planisfério,
Mas não haverá sentido político no governo;
Porque faltarão a razão e a emoção…
Faltarão a pena e a cultura…
Faltarão o corpo e o coração…

E assim, começam as ditaduras,
As monarquias e as demais formas de Estado e Governo.
Homens matam outros pelo poder.
Sentimentos sobressaem outros pelo vazio.
Logo, o bom aprende a esconder o mal…
Enquanto o mal aprende a esconder o bem dentro de si.
Não conseguem ver o equilíbrio,
Senão, não haveria a invasão, mas a comunhão.

Após cinco anos de campanha pelo mundo,
Estou retornando com um terço de meu regimento.
A cavalaria tem sede e saudade.
Os mortos preenchem o livro das honras beneméritas.
O tempo e o frio corroeram nossas almas.
As espadas estão enferrujadas de suor e sangue.
Mas, a pilhagem foi rica e grande.

Como tudo em minha vida,
Estou preparado para mais uma batalha épica,
Desde que o povo de meu antigo território me convoque,
Lutarei até cair o último soldado,
Enquanto estarei montado em meu cavalo no front.
Porque os generais devem morrer assim:
Com a honra da batalha, mesmo diante da derrota.

Só gostaria que soubesse, minha terra querida,
Caso o staff conclua que o relevo é perigoso…
E que a bandeira de socorro não seja hasteada,
Aguardarei a convocação duma terra qualquer,
Que justifique a luta em sua partida;
Pois de que adianta levar a liberdade e o equilíbrio…
Ao país, cujo povo ainda deseja ser escravo?
Logo, nação assim merece continuar sitiada por mercenários.

O irônico de todo o nosso processo militar,
É que fomos invadidos,
Enquanto perdemos nossa integridade…
Eu faria qualquer coisa para voltar e ficar ao seu lado.
Só não passaria por cima de ninguém para isso;
Uma vez que já sofri de tal maldade;
Não desejando retribuí-la a ninguém.
Entretanto, não posso ignorar que no momento da invasão,
Também fui invadido e que todo estratagema foi alterado.

Quando sai em campanha,
Deixei a porta aberta propositalmente…
Calculei e recalculei cada hora, dia e ano, para o retorno.
Esperei a terra natal amadurecer diante das outras invasões.
Esperei encontrar um gigante adormecido,
Que me receberia com o afeto da partida;
Ou que me destruiria com um simples levantar de dedos.

Esperei o silêncio e a ignorância que recebi de outros povos.
Aguardei a traição e o motim, motivados pela cobiça.
Criei a esperança da compreensão tecnológica e filosófica,
Baseada no acesso global das universidades…
E assim, como o criador de orquídeas,
Admirei e reguei meus olhares à distância,
Esperando o momento exato do florescer do lilás ou da violeta.

Mesmo que dissesse que te amo,
Sei que não faria a menor diferença;
Pois, não recebi uma carta sua durante todos esses anos.
Simplesmente brincamos de invasores e usurpadores de estrangeiros.
Logo, quando um general apaixonado por sua terra…
Não tem mais o direito legítimo de retornar,
Só lhe resta se abraçar a primeira centelha de canhão,
E embarcar na primeira fragata para outro continente;
Pois quanto maior for à distância,
Menor será o sofrimento,
Embora a saudade seja um estado de espírito.

Quem sabe,
Se o general não dedique à aliança,
Que deveria ser sua,
À primeira moura de olhos amendoados que aparecer!
E assim, surgiria uma nova civilização,
Baseada na manutenção dos mercenários.
Seria promovido ao título de Príncipe,
Possuiria um harém e nunca mais pronunciaria a frase: – Eu te amo;
Pois ela ficaria contigo na lembrança.
Digo isso; porque, em um rio, só existem as coisas que ficam…
E as coisas que passam.

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