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NADELSON COSTA NOGUEIRA JUNIOR

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Dizem que sou louco,
Porque só sei pensar.

Dizem que sou bobo,
Que não sei amar.

Dizem que sou profano,
Que não sei orar.

Dizem que sou um tolo,
Que não sei dançar.

De tudo isso, o que me deixa mais infeliz…
É saber que não danço tango.

Sobre o resto de mim,
A maioria não tem a menor ideia do que diz

Alguns escritores e poetas se consideram farsantes ou enganadores, uma vez que escrevem aquilo que sentem. Mas a fantasia, embora seja real aos olhos do criador, para o leitor parecerá somente ficção, lirismo, métrica e literatura. Em suma, um conjunto de letras que, em inferência ou não, objetiva dizer algo além das palavras.
Diante da proposta, há diferença entre o jornalista, o editor e o escritor, uma vez que o último escreverá para iluminar sua visão da vida ou para compreender seu apogeu. Em sua linguagem, não há mentira ou pecado, somente a manifestação concreta ou abstrata da sua busca.
Há ilusão e fantasia em minhas palavras, mas a mentira se faz ausente, pois esses vocábulos saem do coração, sem o desejo de dinheiro ou do reconhecimento social. Eles só desejam sair e sacudir as cabeças e corações das pessoas, com ou sem imaginação.
Para piorar a situação da escrita, fica aquela sensação de que o poeta acredita realmente que pode voltar e recuperar o tempo perdido, só porque escreveu coisas lindas e incompreensíveis durante anos. Não… De fato, isso é uma inverdade; pois a escrita é exatamente isso, funcionando como uma justificativa dos atos. O princípio vai muito além dessa simples e infantil interpretação, uma vez que ela serve para testemunhar que, independentemente de quem esteja ao lado da pessoa amada, alguém passou em sua vida e se imortalizou, por si só, em vocábulos e no seu coração. Para o indivíduo que tomar ciência do tamanho dessa graça, tornar-se-á dificílimo o convívio ou a concorrência literária e afetiva, desde que ele aceite a ideia de que continuará um trabalho, que não será terminado. E assim, por causa dos poetas, matrimônios são destruídos e esposas se escondem nos quartos ou nos banheiros para chorar. Isso acontece, porque a escrita é um dom, enquanto o companheiro, no geral, é incapaz de compreender a necessidade que a mulher tem de receber carinho, toques, cafunés e exaltações populares de amor na rua… Isso acontece, porque a mulher gosta de imaginar a valsa com seu príncipe encantado, ser acordada aos beijos antes que parta ao trabalho, ser irritada quando tem que fazer algo muito importante, entre inúmeras outras coisas. Esse fenômeno ataca as mulheres novas e idosas. É um fato social aos olhos do cientista social. É considerado um trauma de insatisfação pelos psicanalistas e uma idiotice pelo resto da humanidade.
O fato é que o cavalheiro poderá enviar bombons, flores, presentes diversos à mulher amada. Entretanto, uma vez que ela se vê influenciada pela escrita dum poeta, não haverá mais volta à realidade. Primeiro, ela aceitará os cortejos por educação. Depois, passará a vê-los como bens de consumo. Mais tarde, verá que qualquer um poderá dá-la isso. Daí, só haverá dois caminhos: se conformar com a realidade e fingir que tudo está lindo, ou lotar sua casa de livros e romances.
Acredite cavalheiro desalmado, caso sua consorte esteja com olheiras, olhando para o lado constantemente, saia contigo, olhando para baixo ou para as estrelas, bem como, esteja demorando muito no banheiro para tomar banho, pode ter a certeza de que algo está errado, enquanto que alguém está se entregando em lágrimas num cômodo isolado do lar ou da alma. E saiba que, quando uma mulher sorrir sozinha no banheiro, é porque existe um poeta ou um palhaço em sua vida… Ser poeta exige essa habilidade também: a arte de fazer as pessoas rirem.
Depois de tudo que foi dissertado, o cavalheiro concluirá que o poeta é um mito, para fazer o sexo com sua amada, ejacular e dormir instantaneamente… Para ficar diante das pessoas sem se preocupar com aquilo que pensam dele, pois ele se tornou um ser comum, que só deseja saciar seu desejo. E assim, nasce aquele dito popular: “A fila anda”. E coitada da mulher, que, geralmente, se ilude com a possibilidade da materialização do poeta e do príncipe encantado na sua frente. Ela fica triste e tenta alcançar o orgasmo no imaginário, pois noventa por cento da cama é uma farsa para a maioria dos mortais.
O que seria da mulher, senão, a existência conceitual do artista e do poeta? – Eu tenho certeza de que essa tendência afeta a maioria dos lares e famílias deste mundo, cujas pessoas são incapazes de fazer carícias em suas parceiras… – E que saudade tenho das mordidas nos lábios de minha escolhida, bem como, beijar seu pescoço e lhe fazer cócegas nas costas e quadril! Infelizmente, para a maioria, os poetas existem, mas são poucos e estão acabando com o transcorrer do tempo. Eles não são somente mentes geniais que escrevem, tendo em vista que possuem sensibilidade e sabem como tocar a alma feminina, ela querendo ou não. E triste será o homem que viver ao lado duma mulher que realmente conheceu um poeta e teve o monopólio de seus carinhos e dedicação; pois ele será uma sombra e somente isso. No máximo, ele dirá “AMOR”, “EU TE AMO”, que são conceitos e conjunções com sentidos pré-montados em nossa história. Ele puxará a mulher pela mão e a levará para algum lugar sem saber se há o consentimento ou não. Ele a terá; porque precisa mostrar a necessidade daquilo que tem. – Talvez seja esse o motivo do final dos casamentos e dos contratos matrimoniais de nosso século: a falta de literatura ou de imaginação.
De fato, coitado será o homem que estiver à sombra dum poeta, pois, caso não lhe haja o dom, sua vida será um fracasso, porque as mulheres sempre comparam tudo entre si.
A mulher que tiver seu poeta, o mantenha vivo; pois o recurso está escasso. Àquela que não tiver, que compre muitos livros de banheiro ou de cabeceira, talvez a ajudará no momento da frustração. Entretanto, agora consegui compreender porque os homens gostam muito de revistas de mulher pelada, enquanto que as mulheres se dedicam à literatura; pois, enquanto a mulher quer a qualidade em um único homem; o homem deseja a quantidade imensurável de mulheres. E, até nesse ponto, o poeta tem importância considerável; pois tanto a prostituta quanto o garoto de programa precisarão ler algo sobre sentimento para realizar seus clientes. Logo, no final, o poeta acaba saciando a todos, com suas limitações física-culturais ou não. Diante disso tudo, uma coisa é certa: – Eu sou poeta e tenho ciência do tamanho de minha graça e do meu valor diante do mundo. Sei que sou imortal e que o meu lugar ser-se-á na cabeceira da cama de alguma mulher ou em seu banheiro. Mas, diante de tamanha magnitude, gostaria de ficar somente na sua cama e de fazer parte de sua vida como o poeta humano, e não, o poeta celulose; porque qualquer analfabeto rabisca papel.

Eu contei todas as estrelas do céu
E não te vi nas constelações.
Tracei trajetórias de cometas,
E até fiz pedidos às estrelas cadentes.

Esperei sua anunciação e vinda de D’Alva.
Ansiei por sua chegada pela direção de Órion.
E… a cada fim de noite,
O Sol me cegava os olhos e ensurdecia aos ouvidos.

Idealizei sua pele como a mais pura seda.
Escutei sua voz no clamor do sábado.

Procurei-te nas escrituras.
Apertei bem os olhos para te enxergar,
Enquanto fazia a preleção no púpido.
Criando-me como uma nova criatura.

E assim, te olhava no jardim de infância.
Enquanto obteria a paciência de esperar.
Segurei suas mãos que tocavam piano,
E que traziam, aos ouvidos, cantigas de ninar.

Idealizei sua voz como uma oração.
Ajoelhei-me no cansaço dum ganso.

Na hermenêutica, fiz reparos pessoais.
Sinais foram-me enviados através do espírito.
Escutei a trombeta tocar durante o ofício.
Era o Sábado me chamando aos ouvidos.

Pude sentir a criação em gênesis.
Cada átomo do meu corpo se decompôs.
Ora eu era matéria… Ora eu era luz.
E só senti isso; porque era Sábado.

Talvez eu tenha ido onde o ancião não mais alcança.
Talvez a aliança deva se confirmar como uma composição.

Em Segunda Crônicas, capítulo quinto ao oitavo,
Salomão inaugurou o Templo de D’us…
A trombeta tocou e anulou os levitas;
Porque era Sábado.

E assim, cala-me a alma…
Como uma flor que perde pétala por pétala.
Mas, a força da flor sempre esteve ali;
Porque existe o Sábado.

Logo, consigo compreender o Criador e a criação.
Entretanto, não sou mais criatura, mas parte do divino.

Quem vive de projeção é número.
Quem vive de rancor, se torna um mal a si próprio;
Enquanto quem se esconde,
Não terá conhecido mais nada além do seu esconderijo.

Em minha partida, tem aquele gostinho salgado na boca.
Parece que meus lábios estão ressecados.
Estou segurando a pontinha da primeira lágrima
Para demonstrar que nada disso importa.

Mas, lágrima não se segura o bastante.
Ela desce e escorre na fronte.

Não se escolhe quando se chora;
Mas pode-se decidir quanto tempo isso transbordará.

E quanto maior for o amargo no peito,
Maior será a intensidade da lágrima.
Até que os passos diminuem o ritmo,
E as pernas estremecem em covardia.

O poeta tentará não olhar para trás.
Contará que a amada lhe grite: – Espere.
Todavia, mesmo que assim não o faça,
Ele, na esperança de ouvir o pedido, parará.

Desencantada se fará sua alma.
Menor ficará sua chama.

Abandonado, assim, se fará o poeta;
Enquanto, em sua porta, se verá a fila das gazelas.

Durante o tempo determinado,
Manterei minha Casa e minhas orações.
Exaltarei, no silêncio, minha súplica.
Guardarei toda minha força vital no sorriso.

Só não quebrarei a Lei de Moisés,
Porque conheço o tamanho da Mão do Senhor…
E o tamanho dos dedos do mundo.
E foi assim que, como homem, sempre pensei…

E para a amada, só posso deixar a compreensão do tempo;
Além de desejá-la que o Sábado esteja muito além do descanso.

Que o dia seja o dia…
Enquanto noite seja somente a noite.
Que as estrelas continuem em suas respectivas posições.
Que o planeta Terra continue sua epilepsia.

Que o sim seja somente sim.
Que o não seja somente o não.
Que haja o respeito e a obediência.
Que haja o sentido no ser e na comunhão.

Que a Tathiana Ferraz compreenda o tempo certo das coisas;
Enquanto a guardarei, como se fosse o Sábado.

Shabat Shalom!

Primeiro, eu duvidei de Deus e de toda a criação.
Depois, duvidei tanto do bem quanto do mal.
Duvidei do amor e da saudade.
Duvidei da angústia e da tristeza.
Duvidei do sal e dos sabores.
Duvidei das flagrâncias e do açúcar.
Duvidei do chocolate e do amargo dos remédios.
Duvidei de mim e de minhas emoções.
Duvidei de minha razão e intelecto.
Duvidei de ti e de sua ausência.
Duvidei… Duvidei… e duvidei…

No final, só pude concluir que:
Quanto maior for minha dúvida,
Maior também será minha certeza…
E, talvez, seja por tal motivo,
Que ainda te aguardo e sonho.
E assim, me imagino solitário num deserto;
Esperando o momento certo de você voltar
E segurar fortemente minha mão;
Para que eu não fuja como um pássaro;
Pois me acostumei com a solidão e a beleza do sonho,
Enquanto a realidade, em verdade, me machuca.
Essa mão imaginária me faz ter muito mais que certezas;
Ela me faz ter esperança.

Eu queria aprender astronomia.
Compreender os detalhes mínimos de cada corpo celeste.
Indicar cada constelação por nome e localização exata.
Guiar-me, à luz da lua, pela noite…
E ter a certeza de que não me perderia pelo caminho.

Eu queria ser um isótopo…
E ter participação direta na criação e alteração da matéria.
Ser… Ora massa… Ora energia.
E depois de tamanha obediência as leis da natureza,
Quebrá-las uma a uma;
Ocupando dois lugares ao mesmo tempo;
Viajando a velocidade da luz,
E retornando ao útero materno.

Eu queria voltar para casa,
E reconhecer minha figura zigótica como um tolo.
E num ato de regressão,
Simplesmente me desintegrar dessa realidade:
– Descobrir se realmente há vida antes da própria vida.
Voltar ao início duma era pura e sobrenatural.
Entretanto, o tempo é uma via de mão-única;
Enquanto jamais sentirei tal gosto.

Então, recolho-me à minha insignificância,
E fico-me abstraindo sobre meus batimentos cardíacos.
Viajo pelo sangue e pela arte que correm em minhas artérias.
Respiro a consciência de que estou usurpando algo precioso de outrem;
Pois sou a continuidade dum processo alquímico;
Inspirado no fóton, no carbono, no oxigênio e no hidrogênio.
Sou uma matriz, fadada ao esquecimento.

Não há tristeza maior
Do que se saber parte da verdade:
Todos vêm ao mundo com um prazo de validade.
Todos nascem com o objetivo de desaparecer.
Essa é a regra que define o orgânico e o inorgânico,
O concreto e a essência do abstrato,
A equação matemática e a escrita,
O Criador e a própria criação.

Diante de tamanho questionamento,
Tomei-me a seguinte decisão:
– Quero saber tudo sobre você…
Cada detalhe físico e psicológico.
– Quero compreender sua personalidade e gostos…
Sentir seu perfume e manter aceso o brilho de seus olhos…
Viajar em sua topografia;
Tendo a exatidão de que o fator biológico é o nosso maior inimigo;
Enquanto sua medida far-se-á com o tempo.

Quero-te olhar todos os dias,
Como que se cada momento fosse o último.
Talvez, o resultado ser-se-ia o aumento de minha ignorância;
Ou a maquiagem maquiavélica de minha solidão.
Outrossim, minha vida passar-se-ia ter mais sentido do que razão,
Mais vontade do que coragem,
Mais destino do que argumentação.

Todavia, no final de nossa fábula,
Teríamos concluído a jornada triunfante de nossas vidas,
Cujo título seria: – O Evangelho dos Amantes,
Que começaria da seguinte forma:
– No início, só havia a luz que vinha do brilho de seus olhos…
O homem deixou de ser o trópico de capricórnio;
Enquanto a mulher, o de Câncer;
Uma vez que a busca estava concluída nela mesma,
Fundamentada na cumplicidade de dois viajantes.

Tibulo que me perdoe,
Mas, toda sua arte…
Ultrapassada, se mostra;
Quando Delia Gliceria e Nemesis…
Deixaram-se cair dos céus
Como sementes de amêndoa.
Ambas, imortalizadas pelo poeta,
E manifestadas pela poesia.

Seria assim que diria Ovídio,
Mal apreciador da arte…
E que, em seu túmulo,
Escreveu “os Amores” em comemoração,
Não ao seu sepulcro,
Todavia, à ausência de concorrência.
Mal apreciador, duas vezes;
Pois Roma se calou diante de sua morte!!!

Corpus, Corpus, Corpus…
A Roma de Augusto, nunca mais fora à mesma.
Horácio e Virgílio morreram contigo…
Nem mesmo o cinismo de Propércio resistiu…
À mudança causada por sua passagem…
Do Jardim do Éden ao, então, possível infinito.
E, ora, que decerto não provaste da Arvore da Vida,
Embora se envenenasse pelo fruto do pecado.
Pois, Maldita é a alma que não viveu os prazeres da carne.

Tibullianum, Tibulianos, Tibulos…
Enquanto Ovídio falava da “Ars Amatoria”,
Apresentando a receita do amar;
Tibulo, dava vida ao deus Príapo,
Que vivia o amor plenamente;
Exaltando seus contos pelas bocarras dos poetas…
Ou seria profecia em oratória e escrita?
Não importa; pois para o Amor ou Eros,
São improváveis os receituários
E os mesmos caminhos… Até os proibidos.

Ultrapassadas estão a Ars Amatoria de Ovídio,
O deus trovador e fecundo de Tibulo,
Como todos os conceitos em versos de Vigílio;
Pois ambos estavam à procura de si,
Percorrendo, em devaneio, o outro.
A eloqüência, na oratória, atrai a imaginação na escrita,
E assim se leva o magistrado na elaboração da sentença.
Mas que testemunho dará o poeta,
Se ele só fala do amor, e tampouco da ninfa?
Talvez isso aconteça,
Porque a história é feita de estrofes e rimas.

Embebedei-me nas veredas destes poetas latinos,
Pais da ambigüidade, sedutores da palavra,
Adversos por natureza Romana,
Perfeccionistas por exigência grega,
Tão próximos e distantes da avareza bárbara.
Com o papel e a pena,
Exaltavam deuses e destruíam reinos.
Todavia, presunçosos em certezas;
Pois que poder é esse de achar possível conceituar
Aquilo que por si mesmo não tem conceito!!!

Imortalizados estão os poetas amantes,
Mas pode a escrita imortalizar aquilo que sinto?
Pode uma vida inteira exaltar a inspiração dum único segundo?
Pode um único vocábulo conceituar a linguística inteira?
Não; pois, no fim, outros vocábulos surgiriam…
E a maldição do conceito não acabaria;
Logo, creio que o “amor” é genitor de todo vocabulário.
Não há receita ou conceito para o subjetivo,
Afinal, tanto Vigílio quanto Tibulo estavam errados;
Pois só colocaram seus nomes na história,
E transformaram suas musas em vítimas de sua própria procura.

Mas que amor é esse tão petrificado e cínico?
Não é isso que procuro…
Pois, então, me satisfaria com a donzela na janela,
Sendo idolatrada em cantigas em tela.
Afinal, no classicismo era assim:
Cantigas atrás de cantigas…
Um botão de rosa para cima,
E uma declamação da amada em total agradecimento.
Nesse movimento literário havia o retorno e a participação,
E, infelizmente, as maravilhas ficavam aos ouvidos
E morriam com eles;
Talvez, essa seja a sina do poeta:
– Fazer monólogos e viver em ilusão.

Decerto, os retalhos desses versos
Não emanam o glamour certeiro;
Pois tampouco te conheço, tampouco sei de ti.
A única certeza que tenho,
É o relâmpago que me ataca à noite,
E que me faz escrever sem parar…
Os rabiscos dessa tempestade de letras,
A qual, ao início do dia, acalma;
Deixando meu corpo descansar.

Sobre a norma culta, já lhe peço desculpas;
Pois dela quase nada sei.
Infantilmente, deslizo sobre o papel, quebrando o jargão
E as leis, que são ditas públicas;
Mas restrito é o público que delas conhece.
E assim vou atropelando os pontos,
As vírgulas e as esquinas;
Pois não me preocupo com o som e com a forma,
Como faria o poeta parnasiano no lugar do leigo.

Não lhe escrevo no intuito puro literário;
Pois só o faço por dívida contigo.
Se por acaso, no futuro, outros se tornarem testemunhas
Daquilo que vo-la escrevo,
Saibam, desde já, que não foi por minha vontade,
Mas por acidente do destino;
Pois não faço literatura…
Só lhe escrevo aquilo que penso e sinto.

Se me perguntarem se te conheci ,
Eu direi que sim…
Depositarei minha imaginação num jantar à luz de velas,
Acompanhado pela sinfonia do mar.
Não testemunharei mais nada além de minha abstração.
Adicionaria só mais um detalhe:
– Que o seu sobrenome é fantasia e o meu, alucinação;
Pois estou bêbado de poesia e tomado por ti…
E que caiam as estrelas do céu…
Que a noite se torne dia,
Caso alguém ache que seja tudo mentira…
E que na dúvida, o papel seja minha testemunha;
Afinal, sou inocente até que a vida ou que a lua…
Provem-me o contrário.

Como descrever um homem…
Além da fumaça e do cheiro do tabaco?

Como descrevê-lo…
Além de suas roupas e de seu cachimbo?

Como descreve-lo…
Se suas ideias não podem ser vistas?

Bem… a inteligência humana é prática;
Permitindo seu tutor julgar os fatos e os objetos;
Formulando algo conhecido como pré-conceito.

Mas, como julgar alguém…
Além da loção pós-barba e de seus trajes?

Torna-se dificílimo o julgamento;
Pois não consigo me descrever…
Não consigo me conceituar em vocábulos.

Sei que sou orgânico,
Embora não faça parte do organismo.

Sei que estou muito além daquilo…
Que vejo refletido no espelho.

Afinal, sou Homem…
Não sou matéria.

Não tenho como me medir…
Ou aos meus semelhantes.

Sou simplesmente uma imagem cheia de ideias
Que vai explodir…
E revolucionar a consciência do mundo.

Vejo somente…
Muita fé…
Muita dúvida…
E muita procura.

Se não houvesse a mãe,
Não haveria o pai e nem o filho.
Se não houvesse o lar,
Não haveria a família.
Se não houvesse a família,
Não haveria a ordem.
Se não houvesse a ordem,
A sociedade seria uma catástrofe.

Se não houvesse o arroz,
Não haveria o feijão.
Se não houvesse a religião,
Não haveria a ciência.
Se não houvesse a competição,
Não haveria a qualidade de vida.
Se não houvesse a comparação,
Não existiriam os adjetivos.

Se não houvesse a escrita,
Não existiriam os livros.
Se não houvesse a moda,
Não haveria o moderno.
Se não houvesse o moderno,
Não haveria o contemporâneo.
Se não houvesse a arte,
Não haveria a criação.

Se não houvesse a estória,
Não haveria o conto.
Se não houvesse a realidade,
Não haveria a crônica.
Se não houvesse a verdade,
Não haveria a mentira.
Se não houvesse o romance,
Só existiriam os documentários.

Se não houvesse a cor,
Só haveria contraste.
Se não houvesse a forma,
Nada seria possível.
Se não houvesse o sonho,
Só haveria o sono.
Se não houvesse o cansaço,
Somente trabalharíamos!!!

Se não houvesse o rico,
Não haveria o pobre.
Se não houvesse o capital,
Não haveria o trabalho.
Se não houvesse o planejamento,
Não haveria a produção.
Se não houvesse o cobre,
Talvez não existisse o zinco.

Se não houvesse o rei,
Não haveria a revolução.
Se não houvesse a ideia,
Não haveria o ato.
Se não houvesse o ato,
Não haveria a potência.
Se não houvesse a atitude,
Não haveria a reação.

Se não houvesse o usuário,
Não haveria o tráfico.
Se não houvesse a propina,
Não haveria o corrupto.
Se não houvesse a política,
Não haveria o Estado.
Se não houvesse o Estado,
A maldade não teria sentido.

Se não houvesse o fogo,
Não haveria o calor…
Se não houvesse a dor,
Não haveria a cura…
Se não houvesse a religião,
Não haveria razão.
Se não houvesse Deus,
Tudo estaria perdido.

Se não houvesse juízo,
Não haveria o pecado.
Se não houvesse o pecador,
Não haveria a culpa.
Se não houvesse o culpado,
Não haveria sentença.
Se não houvesse a morte,
Não haveria a vida.

Se não houvesse a miséria de espírito,
Não haveria a pobreza material.
Se não houvesse a fome,
Não haveria a ganância.
Se houvesse o conflito,
Não haveria a inveja e a cobiça.
Se não houvesse o desejo,
Não existiriam a guerra e a ignorância.

Se não houvesse o abuso,
Não haveria a intolerância.
Se não houvesse a maldade,
Não haveria herói.
Se não houvesse motivo,
Não haveria o crime.
Se não houvesse o desigual,
Não haveria o normal.

É assim que nos distinguimos de todos os bichos;
Tornando-nos escravos da diferença;
Constituindo leis para que sejam quebradas;
Saciando-nos o prazer…
Através da desgraça alheia;
Vivendo em plenitude a diversidade;
Usando como referência o singular…
Sendo etnocêntricos na mesma sociedade.

Se não houvesse o senhor,
Não haveria o escravo.
Se não houvesse o ócio,
Não haveria o cio.
Se não houvesse você,
O Eu não existiria.
Se não houvesse o cheio,
Não haveria estômago vazio.

Se não houvesse tudo isso,
Não haveria a vergonha.
Se não houvesse a vergonha,
Simplesmente seria um bicho…
Devorador de outros animais…
Seria mais um…
No ciclo vicioso da evolução!!!

Não fizemos nada…
Mas nossas almas se encontram…
Em total constrangimento.
Olhávamos de lado,
Aguardando e aproveitando…
A pureza do vão momento.

Todavia, não fizemos nada…
Nada daquilo que pudéssemos nos envergonhar…
Nada daquilo que pudéssemos nos constranger…
Recebemos as chaves do cárcere,
A permissão de transitar…
O direito natural de ir e vir.

Logo, o presídio não existe;
Pois temos suas chaves…
Conhecemos seus cômodos e suas portas.
A casa deixou de ser uma prisão…
Tornando-se o centro de nossas vidas,
O útero materno de nosso lar.

Só devemos nos envergonhar daquilo que é errado…
Só devemos nos arrepender daquilo que foi feito.
Então, vamos retirar as mordaças…
E o peso de nossos grilhões…
Ou mantê-los em nossas almas
Como tributo e respeito à nossa afetividade.

Afinal…
Prendo-me a ti por amor.
Prendo-me a ti por vontade.
Prendo-me a ti por orgulho.
Prendo-me a ti por respeito.
Devo-me concluir então (…)
Que não estou encarcerado.
Mas, se aos olhos do mundo…
Não existe a coragem,
Prendo-me a ti, assim,
Por grilhões de afetividade.

Poético é viajar no calor da caneta,
Deslizando-a sobre o papel…
Alimentar com o tom da escrita
Cada polímero da folha virgem…
Descrever o mundo,
Ou descrever-me como vejo.

Mas só isso não basta…
Para se realizar um ato poético.
É necessário querer muito escrever…
Escrever com afinco…
Escrever com agrado…
Escrever com orgulho…
Escrever com o espírito.

Não se pode temer o futuro.
Não se pode temer o presente.
Só se deve temer o ato de não escrever…
Àquilo que seu coração mandar.
É assim que se inicia um rito…
O rito do amor poético!!!

Mas isso é só o início…
O princípio fundamental dum processo intrínseco,
No qual a alma deve participar na plenitude da carne;
Pois somente os vivos sabem a dor da ausência…
Somente os sórdidos desejam a vida…
Somente os loucos chegam,
Sem vontade alguma de voltar ao limbo.

Deve-se escrever com a força da vaidade…
Com a tristeza da perda…
Com a incerteza do futuro…
Com o desejo único do amanhã.
Escrever com lágrimas;
Pois o poeta só cria um estilo,
Quando sua lágrima adoça ou amarga à tinta;
Manchando eternamente a celulose.

Talvez, seja nesse momento de vazio
Que o artista sai de cima do muro…
E se inventa diante da falta de criatividade do mundo;
Pois a escrita é assim:
– Determina o escritor,
Na busca da definição íntima de seu caráter.

Todavia, ser poeta…
É fazer de sua vida comum, uma grande cruzada.
É conhecer a constituição e aboli-la…
É ser religioso em mente…
E pecador em corpo.
É isso!!! Pois para ser poeta,
É necessário cometer os sete pecados capitais…
Lamber o beiço e querer mais…
Pecar!!! Pecar!!! Pecar!!!
Mas não há pecado onde há amor…
Então é certo afirmar:
Amar!!! Amar!!! Amar!!!

Entretanto, o poeta deve se lembrar…
Que quanto maior for a viagem,
Maior será o vazio amargo no peito.
É assim que se paga o tamanho da graça…
Desejar o mundo para preencher a solidão…
E criam-se musas, seres celestiais inatingíveis…
Alimentando o fervor da loucura.

Então, sem se perceber,
Aparece diante dos olhos…
Uma moura-encantada…
Com seus cabelos negros lisos,
O semblante avermelhado, como sua túnica,
Queimada de sol…
Em suas mãos, se encontra o pente de ouro,
Que engana, que atrai o artista,
Como uma abelha à procura do néctar…
É inevitável… é uma reação natural.
O poeta vai deseja-la,
Enquanto que ela o possuirá.

Cuidado, escritor iniciante…
Pois todos estão fadados ao fracasso.
Todos desejam o matrimônio…
Uns cedo. Outros tarde.
A musa inspiradora surgirá donde menos se espera.
Ela preencherá o vazio no peito…
E dará sentido restrito ao infinito.

Isso acontecerá,
Porque já estava escrito…
Vá… Não tenha medo;
Pois tudo é válido para o poeta.
Viva a graça do amor poético.
Sinta a diferença do estar para o ser.
Seja o guardião de sua inspiração…
Só não se esqueça do dever para com a escrita.
Não aposente, jamais, a pena dentro de sua escrivaninha.
Divida sua arte com todos…
Afinal, se não for assim,
O convívio social será um desastre.

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