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arrependido

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No princípio era o vento.
Depois veio o zumbido do silêncio,
Enfeitando o seu andar.
E nesse ballet de desejos,
Novas forças surgiram
E novos escravos renasceram.

É no flagelo amordaçado
Desta alcova áspera e fria,
Que condecoro minhas súplicas…
As quais, por divinas, talvez
Sejam as últimas.

É com a caneta de pena
E a tinta pura da Índia,
Que começo, aqui e agora,
A desejar tudo aquilo…
O qual jamais me fora permitido:
Tocá-la além do simples lance de olhar.

Os meus dias se vão apagando,
Meu espírito se vai consumindo;
Enquanto meus olhos são obrigados
A lhe contemplar em provocação
Ou em verdadeiro desdenho.

E, como um idólatra rebuscado,
Desmerecido da misericórdia da adoração,
Fecho meus olhos e…
Desabafo meus sentimentos em pó.
Exaltando sua desconfiança.

Todavia, saliento esses versos
Em quatro movimentos de dom.
Pois para cada Estilo de escrita,
Exaltarei um poema
Como luxúria de minha antífona!!!

O mal do século me atenta
E me contamina por inteiro.
O desespero se faz por partes
E se salienta a cada gole de cerveja.
Pois, até para o menor dos poetas,
A vida se deixa por melhor em certeza.

E por entre as gafieiras,
Abatendo e sucumbindo meus sentimentos,
Surpreendo-me no limite da gentileza,
Proclamando a boêmia como seu altar…
E como o repouso de meu sofrimento.

Envolvido por desejos de Beleza,
Eu me entrego ao sepulcro (…)
Do último momento de desprezo.
Vivendo a tristeza única
De amar-te em sacrilégio.

Nesse cenário de pétalas de rosas
Com o cheiro de flores dos campos,
Confundido com a realidade do Enxofre,
Pego-me em pecado,
Desejando-te setenta vezes.

Desnorteado pelo amor que abala o monte,
Não sei, mais, quanta areia ainda resta
Para me alertar da proximidade da morte,
Ou de libertar-me com o seu último doce beijo.

Mas, numa sui generis de alegria,
Meus batimentos cardíacos soam …
Como instrumentos de aviso em guerra;
Preparando os soldados para o pior dos combates.
Tum… Tum… é a última chance, ou um infarto?

E na alegoria da cruz e da espada,
Como um cavallier nórdico e decente,
Eu gostaria de emanar a cultura e o bom senso;
Trocando a espada pela flor,
E os hinos de glória pelas cantigas.

Todavia, desnorteada se torna em cunho,
Manter a vida com a sensação de morte.
Pois amor de ilusão, assim se faz:
Condenação eterna…
até mesmo para o mais condecorado dos nobres.

Meu escudo é minh’alma.
Minha espada, minha fala.
O meu desejo, meus anseios!!!
Em meus ombros, não carrego estrelas
Ou ostento medalhas de bravura.
Mas seguro o peso do órgão amargo
Que mantém a infelicidade quase eterna em defeito.

Todavia, assim, nessa condenação absurda,
Eu imploro, por cada instante
De lembranças doce como o néctar do açúcar,
Que, na infelicidade, ainda me permitem a enxergar
A esperança entre oportunidades tantas,
Na loucura em ti amar.

E escrevendo uma Cantiga ou uma Trova,
Mediria as palavras em escalas de valores sublimes,
Qualificando a métrica e as rimas;
Esquecendo realmente de ti.

Alexandrino,
Redondilha Maior…
Redondilha Menor…
De que importa a forma sem conteúdo?
De que adianta possuir a beleza sem clareza?

É no despertar dos sinos,
Que desenvolto as Mil e uma noites,
Convidando-a para o casamento.
Mas, por ironia das épocas que virão,
Você não me disse um sim…
Muito menos… um não.

Pois, simplesmente, me ignoraste
Como o açougueiro faz com a carne que corta.
A qual ganha o pão diariamente.

Abandono o suicídio diário.
E abraço a bandeira do nacionalismo.
Edifico, como faria o indianista,
No auge de sua intelectualidade profana
E do amor ordinário.

Minha amada terra patrícia.
Donde o exílio vejo a relembrar!!!
Abarco o meu braço em veredas,
Triste a ti desejar.

Mil talentos me acenam
A admirar-te ao deslizar
Sobre as luxurias desse poema.
Em sermões de sepulcro,
Tendem-me a enterrar.

Assim, no anseio de meu enterro,
As velas chorariam por mim.
Mas, para escravos não há velas…
Somente os informativos nos jornais.
E assim seria o meu fim.

Trovariam sinfonias…
Nas alegorias de meus anseios.
Pois mulheres sorririam,
Enquanto tu continuarias no desprezo.

Afinal, todos os dias de amor se morre,
Quando não se tem o afago nas mãos
E os cabelos entre os dedos.
Deslizando num carinho imaginário,

Como o abraço que sufoca o peito,
A lembrança se faz por defeito
A legitimar o pacto não consumado.
Espero tocar-te o corpo
E libertar-te dos grilhões oriundos da angústia.
Todavia, em escárnio…
o amor escorre como água entre os dedos.

Aos sábios, ecléticos,
Moribundos da vida…
Que façam de si mesmos escritores,
Logo, aqui, eu mesmo escrevo:

Caminho por entre as flores,
Recantos do meu bem-dizer…
As saudades me abalam,
Perco-me entre as dores…
E amores da vida.

Sublime é o teu encanto
Em sua forma decadente…
Desejo-te impróprio,
Em querer-te bem.

Diante de ti,
Desarmo-me e entrego em lágrimas…
Talvez sejam lágrimas de descontentamento.
Todavia, as lágrimas são lágrimas.

De pétala a pétala…
Bem-me-quer…
Malmequer…
É assim que quebro a beleza do recinto;
Pois o adormecido acorda,
Enquanto o botão de rosa se cala.

De lua em lua,
Conto as estrelas.
E, em minhas contas,
Não passo das primeiras;
Pegando-me a recomeçar sempre.

O bueiro ejacula o odor da escória,
Enquanto o caminho por entre as vielas.
No fundo, ando dentro de minha memória falida.
A cada cômodo, ainda penso em ti,
Como a maldição da estátua…
Que se manifesta diante de seu criador.

De chuva em chuva,
Eu tento contar os pingos;
Atormentando minha culpa.
Embora não seja culpado,
Mesmo sentindo-me arrependido.

Da chuva, embora talvez não possa,
Eu me fiz em poça…
O mais absurdo, é que não estás chovendo…
Pois são minhas lágrimas que escorrem com o vento.

De estrela em estrela,
Caminho por universos distintos…
Formo uma constelação alucinante…
E caio no infinito de minha cela.
Mais uma vez, estou só…
Mas nunca sozinho!!!

De letra em letra,
Construo radicais, prefixos, sufixos, palavras!!!
Escrevo e descrevo-te.
Perco a noção das normas…
Minhas mãos tremem…
Pois, teu nome não escrevo mais.

De noite em noite,
Olho-me para o teto…
Penso e repenso…
Perco-me em respeito;
Pois só me vejo em juízo.

Numa esfera de preceitos,
Encontro-te somente…
Calo-me por entre os lábios…
Contraio, em falsete, os dedos,
Como o antropófago que saboreia…
Na plenitude da alma,
Sua dinastia.

De pétala em pétala,
Perco-me na conta,
Esqueço-me os sonhos…
Pois não sou mais eu…
Sou ninguém… Porque estou perdido!!!

Decerto, se tivesse de tampouco fosse,
Antes de mais nada, teria alguém…
Certamente, lhe mandaria flores…
Algumas palavras…
Ou um simples parabéns.

Entretanto, tenho-me mais nada;
Pois sou puro vazio…
Estou anônimo no passado…
Fincado no presente…
E inerte para o futuro.
Afogo-me no fundo do poço;
Sendo mais um cadáver submerso.

Como antropófago, encontro-me em dieta;
Pois não penso e nem como.
Fico-me, aqui, parado como uma estátua;
Praticando a arte da autofagia;
Consumindo-me aos poucos…
Faço-te esse agrado;
Porque ainda te amo…
Mesmo que seja de forma descontente!!!

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