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Tibulo que me perdoe,
Mas, toda sua arte…
Ultrapassada, se mostra;
Quando Delia Gliceria e Nemesis…
Deixaram-se cair dos céus
Como sementes de amêndoa.
Ambas, imortalizadas pelo poeta,
E manifestadas pela poesia.

Seria assim que diria Ovídio,
Mal apreciador da arte…
E que, em seu túmulo,
Escreveu “os Amores” em comemoração,
Não ao seu sepulcro,
Todavia, à ausência de concorrência.
Mal apreciador, duas vezes;
Pois Roma se calou diante de sua morte!!!

Corpus, Corpus, Corpus…
A Roma de Augusto, nunca mais fora à mesma.
Horácio e Virgílio morreram contigo…
Nem mesmo o cinismo de Propércio resistiu…
À mudança causada por sua passagem…
Do Jardim do Éden ao, então, possível infinito.
E, ora, que decerto não provaste da Arvore da Vida,
Embora se envenenasse pelo fruto do pecado.
Pois, Maldita é a alma que não viveu os prazeres da carne.

Tibullianum, Tibulianos, Tibulos…
Enquanto Ovídio falava da “Ars Amatoria”,
Apresentando a receita do amar;
Tibulo, dava vida ao deus Príapo,
Que vivia o amor plenamente;
Exaltando seus contos pelas bocarras dos poetas…
Ou seria profecia em oratória e escrita?
Não importa; pois para o Amor ou Eros,
São improváveis os receituários
E os mesmos caminhos… Até os proibidos.

Ultrapassadas estão a Ars Amatoria de Ovídio,
O deus trovador e fecundo de Tibulo,
Como todos os conceitos em versos de Vigílio;
Pois ambos estavam à procura de si,
Percorrendo, em devaneio, o outro.
A eloqüência, na oratória, atrai a imaginação na escrita,
E assim se leva o magistrado na elaboração da sentença.
Mas que testemunho dará o poeta,
Se ele só fala do amor, e tampouco da ninfa?
Talvez isso aconteça,
Porque a história é feita de estrofes e rimas.

Embebedei-me nas veredas destes poetas latinos,
Pais da ambigüidade, sedutores da palavra,
Adversos por natureza Romana,
Perfeccionistas por exigência grega,
Tão próximos e distantes da avareza bárbara.
Com o papel e a pena,
Exaltavam deuses e destruíam reinos.
Todavia, presunçosos em certezas;
Pois que poder é esse de achar possível conceituar
Aquilo que por si mesmo não tem conceito!!!

Imortalizados estão os poetas amantes,
Mas pode a escrita imortalizar aquilo que sinto?
Pode uma vida inteira exaltar a inspiração dum único segundo?
Pode um único vocábulo conceituar a linguística inteira?
Não; pois, no fim, outros vocábulos surgiriam…
E a maldição do conceito não acabaria;
Logo, creio que o “amor” é genitor de todo vocabulário.
Não há receita ou conceito para o subjetivo,
Afinal, tanto Vigílio quanto Tibulo estavam errados;
Pois só colocaram seus nomes na história,
E transformaram suas musas em vítimas de sua própria procura.

Mas que amor é esse tão petrificado e cínico?
Não é isso que procuro…
Pois, então, me satisfaria com a donzela na janela,
Sendo idolatrada em cantigas em tela.
Afinal, no classicismo era assim:
Cantigas atrás de cantigas…
Um botão de rosa para cima,
E uma declamação da amada em total agradecimento.
Nesse movimento literário havia o retorno e a participação,
E, infelizmente, as maravilhas ficavam aos ouvidos
E morriam com eles;
Talvez, essa seja a sina do poeta:
– Fazer monólogos e viver em ilusão.

Decerto, os retalhos desses versos
Não emanam o glamour certeiro;
Pois tampouco te conheço, tampouco sei de ti.
A única certeza que tenho,
É o relâmpago que me ataca à noite,
E que me faz escrever sem parar…
Os rabiscos dessa tempestade de letras,
A qual, ao início do dia, acalma;
Deixando meu corpo descansar.

Sobre a norma culta, já lhe peço desculpas;
Pois dela quase nada sei.
Infantilmente, deslizo sobre o papel, quebrando o jargão
E as leis, que são ditas públicas;
Mas restrito é o público que delas conhece.
E assim vou atropelando os pontos,
As vírgulas e as esquinas;
Pois não me preocupo com o som e com a forma,
Como faria o poeta parnasiano no lugar do leigo.

Não lhe escrevo no intuito puro literário;
Pois só o faço por dívida contigo.
Se por acaso, no futuro, outros se tornarem testemunhas
Daquilo que vo-la escrevo,
Saibam, desde já, que não foi por minha vontade,
Mas por acidente do destino;
Pois não faço literatura…
Só lhe escrevo aquilo que penso e sinto.

Se me perguntarem se te conheci ,
Eu direi que sim…
Depositarei minha imaginação num jantar à luz de velas,
Acompanhado pela sinfonia do mar.
Não testemunharei mais nada além de minha abstração.
Adicionaria só mais um detalhe:
– Que o seu sobrenome é fantasia e o meu, alucinação;
Pois estou bêbado de poesia e tomado por ti…
E que caiam as estrelas do céu…
Que a noite se torne dia,
Caso alguém ache que seja tudo mentira…
E que na dúvida, o papel seja minha testemunha;
Afinal, sou inocente até que a vida ou que a lua…
Provem-me o contrário.

Como descrever um homem…
Além da fumaça e do cheiro do tabaco?

Como descrevê-lo…
Além de suas roupas e de seu cachimbo?

Como descreve-lo…
Se suas ideias não podem ser vistas?

Bem… a inteligência humana é prática;
Permitindo seu tutor julgar os fatos e os objetos;
Formulando algo conhecido como pré-conceito.

Mas, como julgar alguém…
Além da loção pós-barba e de seus trajes?

Torna-se dificílimo o julgamento;
Pois não consigo me descrever…
Não consigo me conceituar em vocábulos.

Sei que sou orgânico,
Embora não faça parte do organismo.

Sei que estou muito além daquilo…
Que vejo refletido no espelho.

Afinal, sou Homem…
Não sou matéria.

Não tenho como me medir…
Ou aos meus semelhantes.

Sou simplesmente uma imagem cheia de ideias
Que vai explodir…
E revolucionar a consciência do mundo.

Vejo somente…
Muita fé…
Muita dúvida…
E muita procura.

Se não houvesse a mãe,
Não haveria o pai e nem o filho.
Se não houvesse o lar,
Não haveria a família.
Se não houvesse a família,
Não haveria a ordem.
Se não houvesse a ordem,
A sociedade seria uma catástrofe.

Se não houvesse o arroz,
Não haveria o feijão.
Se não houvesse a religião,
Não haveria a ciência.
Se não houvesse a competição,
Não haveria a qualidade de vida.
Se não houvesse a comparação,
Não existiriam os adjetivos.

Se não houvesse a escrita,
Não existiriam os livros.
Se não houvesse a moda,
Não haveria o moderno.
Se não houvesse o moderno,
Não haveria o contemporâneo.
Se não houvesse a arte,
Não haveria a criação.

Se não houvesse a estória,
Não haveria o conto.
Se não houvesse a realidade,
Não haveria a crônica.
Se não houvesse a verdade,
Não haveria a mentira.
Se não houvesse o romance,
Só existiriam os documentários.

Se não houvesse a cor,
Só haveria contraste.
Se não houvesse a forma,
Nada seria possível.
Se não houvesse o sonho,
Só haveria o sono.
Se não houvesse o cansaço,
Somente trabalharíamos!!!

Se não houvesse o rico,
Não haveria o pobre.
Se não houvesse o capital,
Não haveria o trabalho.
Se não houvesse o planejamento,
Não haveria a produção.
Se não houvesse o cobre,
Talvez não existisse o zinco.

Se não houvesse o rei,
Não haveria a revolução.
Se não houvesse a ideia,
Não haveria o ato.
Se não houvesse o ato,
Não haveria a potência.
Se não houvesse a atitude,
Não haveria a reação.

Se não houvesse o usuário,
Não haveria o tráfico.
Se não houvesse a propina,
Não haveria o corrupto.
Se não houvesse a política,
Não haveria o Estado.
Se não houvesse o Estado,
A maldade não teria sentido.

Se não houvesse o fogo,
Não haveria o calor…
Se não houvesse a dor,
Não haveria a cura…
Se não houvesse a religião,
Não haveria razão.
Se não houvesse Deus,
Tudo estaria perdido.

Se não houvesse juízo,
Não haveria o pecado.
Se não houvesse o pecador,
Não haveria a culpa.
Se não houvesse o culpado,
Não haveria sentença.
Se não houvesse a morte,
Não haveria a vida.

Se não houvesse a miséria de espírito,
Não haveria a pobreza material.
Se não houvesse a fome,
Não haveria a ganância.
Se houvesse o conflito,
Não haveria a inveja e a cobiça.
Se não houvesse o desejo,
Não existiriam a guerra e a ignorância.

Se não houvesse o abuso,
Não haveria a intolerância.
Se não houvesse a maldade,
Não haveria herói.
Se não houvesse motivo,
Não haveria o crime.
Se não houvesse o desigual,
Não haveria o normal.

É assim que nos distinguimos de todos os bichos;
Tornando-nos escravos da diferença;
Constituindo leis para que sejam quebradas;
Saciando-nos o prazer…
Através da desgraça alheia;
Vivendo em plenitude a diversidade;
Usando como referência o singular…
Sendo etnocêntricos na mesma sociedade.

Se não houvesse o senhor,
Não haveria o escravo.
Se não houvesse o ócio,
Não haveria o cio.
Se não houvesse você,
O Eu não existiria.
Se não houvesse o cheio,
Não haveria estômago vazio.

Se não houvesse tudo isso,
Não haveria a vergonha.
Se não houvesse a vergonha,
Simplesmente seria um bicho…
Devorador de outros animais…
Seria mais um…
No ciclo vicioso da evolução!!!

Não fizemos nada…
Mas nossas almas se encontram…
Em total constrangimento.
Olhávamos de lado,
Aguardando e aproveitando…
A pureza do vão momento.

Todavia, não fizemos nada…
Nada daquilo que pudéssemos nos envergonhar…
Nada daquilo que pudéssemos nos constranger…
Recebemos as chaves do cárcere,
A permissão de transitar…
O direito natural de ir e vir.

Logo, o presídio não existe;
Pois temos suas chaves…
Conhecemos seus cômodos e suas portas.
A casa deixou de ser uma prisão…
Tornando-se o centro de nossas vidas,
O útero materno de nosso lar.

Só devemos nos envergonhar daquilo que é errado…
Só devemos nos arrepender daquilo que foi feito.
Então, vamos retirar as mordaças…
E o peso de nossos grilhões…
Ou mantê-los em nossas almas
Como tributo e respeito à nossa afetividade.

Afinal…
Prendo-me a ti por amor.
Prendo-me a ti por vontade.
Prendo-me a ti por orgulho.
Prendo-me a ti por respeito.
Devo-me concluir então (…)
Que não estou encarcerado.
Mas, se aos olhos do mundo…
Não existe a coragem,
Prendo-me a ti, assim,
Por grilhões de afetividade.

Poético é viajar no calor da caneta,
Deslizando-a sobre o papel…
Alimentar com o tom da escrita
Cada polímero da folha virgem…
Descrever o mundo,
Ou descrever-me como vejo.

Mas só isso não basta…
Para se realizar um ato poético.
É necessário querer muito escrever…
Escrever com afinco…
Escrever com agrado…
Escrever com orgulho…
Escrever com o espírito.

Não se pode temer o futuro.
Não se pode temer o presente.
Só se deve temer o ato de não escrever…
Àquilo que seu coração mandar.
É assim que se inicia um rito…
O rito do amor poético!!!

Mas isso é só o início…
O princípio fundamental dum processo intrínseco,
No qual a alma deve participar na plenitude da carne;
Pois somente os vivos sabem a dor da ausência…
Somente os sórdidos desejam a vida…
Somente os loucos chegam,
Sem vontade alguma de voltar ao limbo.

Deve-se escrever com a força da vaidade…
Com a tristeza da perda…
Com a incerteza do futuro…
Com o desejo único do amanhã.
Escrever com lágrimas;
Pois o poeta só cria um estilo,
Quando sua lágrima adoça ou amarga à tinta;
Manchando eternamente a celulose.

Talvez, seja nesse momento de vazio
Que o artista sai de cima do muro…
E se inventa diante da falta de criatividade do mundo;
Pois a escrita é assim:
– Determina o escritor,
Na busca da definição íntima de seu caráter.

Todavia, ser poeta…
É fazer de sua vida comum, uma grande cruzada.
É conhecer a constituição e aboli-la…
É ser religioso em mente…
E pecador em corpo.
É isso!!! Pois para ser poeta,
É necessário cometer os sete pecados capitais…
Lamber o beiço e querer mais…
Pecar!!! Pecar!!! Pecar!!!
Mas não há pecado onde há amor…
Então é certo afirmar:
Amar!!! Amar!!! Amar!!!

Entretanto, o poeta deve se lembrar…
Que quanto maior for a viagem,
Maior será o vazio amargo no peito.
É assim que se paga o tamanho da graça…
Desejar o mundo para preencher a solidão…
E criam-se musas, seres celestiais inatingíveis…
Alimentando o fervor da loucura.

Então, sem se perceber,
Aparece diante dos olhos…
Uma moura-encantada…
Com seus cabelos negros lisos,
O semblante avermelhado, como sua túnica,
Queimada de sol…
Em suas mãos, se encontra o pente de ouro,
Que engana, que atrai o artista,
Como uma abelha à procura do néctar…
É inevitável… é uma reação natural.
O poeta vai deseja-la,
Enquanto que ela o possuirá.

Cuidado, escritor iniciante…
Pois todos estão fadados ao fracasso.
Todos desejam o matrimônio…
Uns cedo. Outros tarde.
A musa inspiradora surgirá donde menos se espera.
Ela preencherá o vazio no peito…
E dará sentido restrito ao infinito.

Isso acontecerá,
Porque já estava escrito…
Vá… Não tenha medo;
Pois tudo é válido para o poeta.
Viva a graça do amor poético.
Sinta a diferença do estar para o ser.
Seja o guardião de sua inspiração…
Só não se esqueça do dever para com a escrita.
Não aposente, jamais, a pena dentro de sua escrivaninha.
Divida sua arte com todos…
Afinal, se não for assim,
O convívio social será um desastre.

Precisa-se de um amor…
Nada melhor que um amor
Para preencher o vazio de outro.
E que o recente seja mais forte
Do que aqueles que não foram.

De amores em amores
Vou rendendo minha colcha…
Minha colcha de retalhos.

Uma lembrança daqui…
Outra lembrança de lá…
E assim vai crescendo o desespero.

Precisa-se de linha.
Mas a linha que tenho é pouca…
Menor do que preciso.

De amores em amores
Vou rendendo minha colcha…
Minha colcha de retalhos.

Não sei se sou fraco no amor,
Ou se minha linha é imprecisa.
Decerto necessito terminar minha obra-prima.

Todavia, acho que tecerei o fio do universo
E cobrirei, com minha colcha, o mundo;
Pois essa é a matéria-prima de meu agasalho…
A total exigência nos detalhes.

E não há nada melhor que…
Um amor após outro amor;
Pois a linha estica,
Enquanto os retalhos aparecem.

Então te pergunto:
Desejas ser o ponto final de minha colcha?
Ou serás um detalhe guardado no tear da memória?
Bem… Não importas,
Desde que me ajudes a cobrir o mundo.

Triste é ter a consciência
De que se aproxima a hora de parar…
Pois as mãos se enrugam,
O corpo envelhece a cada instante
Numa constância metabólica descontínua.

Surgem as artroses,
A indigna cefaleia…
E as artérias entupidas.
É necessário um simples estalar de dedos…
Para o infarto fulminante ou um derrame.

As pessoas se afastam por medo
Ou pelo excesso de afeto…
Pois poucos são aqueles que estão preparados…
Para constante dialética da morte e vida Severina.
E assim, as camas, as cadeiras, os imóveis,
As propriedades materiais vão cedendo espaço ao novo
Ao custo doloroso daqueles que se foram.

A maioria se prende ao conceito natural da herança.
Mas todo bem necessita de afago e afeto…
Toda criatura tem que passar pela infância
E construir, na velhice, a perpetuação da lembrança.
Afinal, o homem não deixará pedra sobre pedra…
No intuito de consumir-se por inteiro;
Pois do pó viemos…
Ao pó voltaremos.

É diante desse mundo de cão…
Que me oponho todos os dias.
E pergunto-me se seria justo ter filhos,
Constituir uma família,
No intuito puro de perpetuar a lembrança
E deixa-la como herança àqueles que virão…
Na esperança incandescente de uma nova melodia.

Pois dividiria as funções do lar com a mulher amada.
Aprenderia a fazer quitutes para as situações mais sucintas.
Sem dúvida alguma, queimaria muito arroz e feijão.
Confundiria alecrim com manjericão.
Quebraria algumas louças na pia.
Cortaria o dedo ao fatiar a carne.
Morreria de ódio ao ver o solado do primeiro bolo.
E diante das dificuldades da vida,
Iríamos simplesmente aprendendo…
No complicado processo da tentativa e acerto.

Nos momentos difíceis,
Discutiríamos os assuntos homéricos de qualquer relação.
Trocaríamos insultos e elogios…
Riríamos como tolos, mais tarde,
Diante de tanta insegurança e falta de praticidade.
Isso aconteceria, porque nascemos filhos…
Somente filhos.

Chegaria o dia da gravidez,
E a futura mãe se sentiria feliz e injustiçada;
Pois deve ser dificílimo o período de gestação.
Afinal, a barriga cresce…
Os seios aumentam…
Todo o corpo de mulher se torna corpo de mãe.
Os hormônios estariam em taxas elevadíssimas.
E coitado seria de mim diante dos desejos e reclamações.

Teria que trabalhar dobrado
Para atender todos os caprichos maternos.
Perderia muitas noites de sono com a asma
Ou com os complicados processos de contração.
Minha vida estaria fadada a ser pai e marido.

Após o sacramento nupcial,
Viriam os nascimentos de mais três seres:
A mãe, o pai e o filho.
Pois, nesse mundo, só se nasce filho,
Somente filho.

E estenderíamos nosso maior tesouro para o mundo.
Ele ou ela, saberíamos somente na hora,
Não teria raça, religião, time de futebol ou partido político.
Seria a criança inocente aguardando o carinho e o amor dos pais.
Os pais seriam os adultos aguardando o chamado do filho.
E assim, a criança mudaria o mundo…
Enquanto o mundo mudaria a criança.

E a criança aprenderia a andar e falar.
Seus olhos sempre brilhariam de admiração pelo novo.
Sua arte seria correr pelos quatro cantos do mundo…
E desastre seria cria-lo de forma desigual.

Com o passar do tempo,
Ficaríamos velhos e acabados.
Nosso maior orgulho seria olhar a criança,
Que virou adulto,
Alterando o tempo e o espaço.
Partiríamos felizes,
Pela esperança depositada no mundo
E pelo cumprimento do nosso pacto de confiança e fidelidade.

Mas calma…
Daremos um passo de cada vez;
Pois não temos bola de cristal ou podemos ver o futuro.
Temos que ter fé, esperando, sempre, o melhor.

Digas-me:
Tens compromisso para sábado?
E se eu errar em alguma coisa,
Perdoe-me;
Afinal não nasci amante,
Mas tão somente filho.

A cidadela se encontrava sitiada
Pelos bárbaros pagãos…
A multidão, desesperada,
Batia à porta da prefeitura…
Não pelo medo da fome ou da morte,
Mas pela possibilidade…
Do mundo deixar de ser cristão.

Os mecenas compravam os soldados
Para protegerem, não suas vidas,
Mas a arte explorada de seus artistas…
Estes, por findo, se abraçavam aos quadros
E às esculturas femininas sem cabeça.
A idolatria tomava todo o reino,
Enquanto que todos aclamavam o milagre em desejo.

De vento em pompa,
Veio voando da abóbada do teatro
O vislumbre de Vênus com suas vestes azuis.
Seu corpo encouraçado de brilho e beleza,
Encontrava-se elevado sobre o útero dos fracos,
A ostra, que, no interior, trazia consigo a pérola negra,
Que atraí a ganância dos homens,
Mas não reflete sensibilidade da luz.

Então a deusa passou pela multidão
E parou exatamente no centro do bulevar.
Num único gesto, ela estendeu a pérola, dizendo:
– Aquele que tiver a coragem de Perseu,
Que pegue sua espada e lute;
Pois o prêmio será o calor eterno da paixão;
Podendo o mesmo escolher qualquer mulher como esposa.

Viam-se os homens de olhos radiantes,
Hipnotizados pela beleza do amor personificado;
Mas essa não era uma época áurea de guerreiros valorosos
Ou de homens que falassem com deuses.
A luta já era praticada pelo medo e pela desesperança.
Assim poderia haver, sequer, um homem com alma de diamante?
– Perguntava-se a deusa já quase que decepcionada.

O vento suave rompeu a praça,
Enquanto que a deusa se virava,
Movimentando, quase que numa sinfonia,
Seus cachos dourados, que brilhavam como o sol.
Ela abaixava o braço, se preparando para partir,
Quando, do nada, lhe surgem o encanto e a ironia:
– Um fidalgo idoso e decadente; pois…
Suas vestes estavam em farrapos e encardidas.

– Perdoe-me o atraso, Mademoiselle…
Todavia, o corpo não acompanha mais
A virtude do espírito, como muito menos,
O calor alvoroçado de meu coração.
Outrossim, vo-la peço desculpas pelos trajes…
Como também pelo linguajar indigno…
Jaz mui tempo que não falo com os deuses.
– Dizia o fidalgo com o sorriso de criança.

– Que ironia de Zeus!!!
Venho até aqui para conseguir um herói,
Mas, pelo que vejo, só me enviaram um poeta.
De loucos o mundo está cheio,
Mas nem os loucos de hoje são…
Tão lunáticos como de outrora.
Por tal motivo, o esquecimento é certo para mim
E para os demais deuses do Olímpio.
– Afirmou Vênus em voz alta perante o povo.

No mesmo instante lhe retrucou o fidalgo:
– Vênus, deusa do amor, da beleza e da fertilidade…
Não chores pelo inevitável, mas mantenhas viva sua chama.
Lutarei contra os árabes e os pagãos e abro mão
Da pérola e da esposa resguardada…
Só lhe apresento um desejo:
-Quero-te um único doce beijo e depois partirei.

– Soldados abram os portões da cidade!
– Ordenou o fidalgo sem mesmices.
Quando os portões foram abertos,
Só se escutava o barulho comum da natureza;
Pois no âmago da burrice,
Não havia inimigo para lutar…
Até mesmo para a deusa,
As coisas se apresentavam sem clareza.

– Quem és tu, fidalgo?
– Perguntou a deusa desconfiada;
Pois somente um deus teria tamanho poder
De fazer aparecer e sumir uma legião inteira
Num piscar de olhos.

– Sou um dos filhos fugitivos de Cronos.
Fui amparado em segredo por Gaia.
Ando pelos reinos de Hades, do ar, da água e da terra.
Meu domínio está sobre todos, deuses e humanos.
Apareço na alegria e na tristeza,
Na saúde e na guerra.
De certa forma, Afrodite,
Sou seu amante anônimo e quase seu irmão.
Tudo que faço só tem sentido contigo,
Como o mesmo contigo em relação a mim.

– Todos os deuses cairão, como os Titãs.
Todo o Olímpio terá seu fim…
Sua conotação será um mero registro da história humana.
No futuro, os diamantes acabarão…
Assim, como a beleza, a juventude e a vida…
Nós seremos os únicos sobreviventes dessa alegoria;
Pois a humanidade começa e termina sob o afago de nossos dedos.

– Tu és a lua, eu sou o sol.
Tu és o céu, eu sou as estrelas.
Tu és o beijo, eu sou o medo.
Tu és o sonho, eu sou a fantasia.
Tu és o pó, eu sou a pedra.
Tu és o tudo, eu sou o vazio.
Tu és o sim, eu sou o não.
Tu és o sono, eu sou a espera.
Tu és o começo, eu sou o fim.
Tu és o Amor, enquanto que me chamo Solidão.

– Não fales minha querida…
Não sejas imprudente como a paixão carnal.
A humanidade precisa de ti para viver,
Enquanto que necessito somente…
De seu doce beijo para fantasiar…
E preparar os solitários para te receberem
Na plenitude do espírito;
Pois só valorizam o amor,
Aqueles que o conheceram tampouco.
– Disse o deus idoso à soberana Afrodite.
A deusa ficou parada,
Olhando para a Solidão,
Que segurou sua mão e lhe deu…
Um leve beijo nos lábios.
Logo após, o deus simplesmente…
A cortejou; dando-lhe um botão de rosa,
e montou no seu bucéfalo;
Seguindo para fora da cidade.
A deusa, simplesmente, desapareceu chorando;
Abandonando a pérola por entre a multidão;
Levando, no lugar, a flor.

* * *
Foi assim que nasceu a arte do cortejo
Através do buquê de flores…
Pelo menos, na minha humilde concepção.

Todavia, aqui estão escritas palavras…
Que não passarão de meras palavras…
Chaves falhas das relações cotidianas,
Que nos envolvemos durante todos os instantes.

Ora vem o mar, Ora vem ar,
Ora vem a terra; mas nunca vem o amar.
E nos atrevemos quase sempre a dizer…
Aquelas coisas que nunca deveriam ser ditas…
Aquelas palavras que certamente alguém as usará contra a nós mesmos
No momento de total desespero.

Chamaria esse sentimento de amor?
Chamaria meus objetivos de Utopia?
Diria que o meu trabalho é minha vida?
Não; pois aqui eu renego a tudo.
Desqualifico minha classe e minha categoria.
Abdico os totens racionais dos empíricos.
Renego qualquer tipo de lei que me limite como indivíduo.

E, no âmbito do afeto, abraço todos os presentes;
Dando-lhes beijos e sorrisos…
Dito-lhes minhas propostas:
– Vamos fazer nada… Nada daquilo que nos impeça de sonhar.
– Vamos construir novas estruturas, novos caminhos.

Mas quando vos digo novos caminhos,
Não penso em continuar o caminho de nossos pais…
Penso na realização de um caminho abstrato racional
Que se deixe interpretar por qualquer indivíduo,
Por qualquer cidadão ou ocasião.

Quando eu penso em novas estruturas,
Imagino, não a continuação da nossa história farda;
Mas na iniciação nula de um estilo de época avançado
Sem drama ou melodia determinada…
Afinal, as coisas acontecem como uma mera manifestação do acaso.

Abro mão de minha cidadania,
Dos meus ideais de decência…
E da minha apólice de seguros pessoais,
Se a partir deste instante,
Eu não poder olhar para o céu e dizer:
– Sou um Artista.

Mas isso é pouco para uma figura catalisadora de idéias.
Ser é condição de Manifestação,
E Manifestações vão, Manifestações são esquecidas…
Manifestações morrem.

Sou muito mais que uma manifestação;
Pois eu sou parte do vento e da chuva.
Sou a continuação daquilo que ainda não veio.
Afinal, como a humanidade,
Eu estou com as trevas e abaixo de Deus.

Como os artistas presentes,
Eu afirmo que não sou uma manifestação.
Pois estamos acima das normas e dos valores…
Somos nós que iniciamos as grandes revoltas, as ditas Revoluções.

Aqui eu ratifico:
– O mundo não é nada sem a nossa inspiração.
– O Homem não é nada sem o ar de nossa graça.

Não somos uma mera manifestação do acaso.
Não somos amigos do belo.
Não somos o caminho da perfeição…
Somos meramente o inconsciente das sociedades…
Somos poetas, pintores, músicos, teatrólogos…
Somos a exuberância da expressão humana.

Por Favor, criaturas do futuro,
Não nos confundam com os intelectuais,
Muito menos com as crianças,
Por que nós somos a Arte por si mesma.

Existem momentos em que a alma se encontra tão distante e tão solitária, que qualquer ruído pode significar um instante de esperança ou de medo da incerteza…  É a partir de tais sentimentos que os objetos passam a ter vida, memória e necessidades…  É a partir do equilíbrio moral entre sentimentos tão antagônicos, que nasce a simbologia, onde alguns objetos passam a ter muito mais que meros significados, mas virtudes.

Existem dois pares de luvas brancas os quais significam a pureza, o compromisso com Deus, com a Pátria e com a Família…  Muito mais do que isso, os Pares me chamam a atenção aos deveres e responsabilidades para com a Sociedade…  Eles representam a luz e a virtude que devem emanar do fundo da alma humana a qual tem o compromisso divino de  cuidar carinhosamente da criação.   E assim, os irmãos cuidam de seus irmãos, simplesmente, porque, na verdade, só podem existir a comunhão e o amor.

Um dos pares de luvas eu carrego comigo no intuito de manter vivo o sentimento e a responsabilidade que me cabe como cidadão e como Irmão…  E que o meu par nunca se suje;  pois ele é a simbologia de minha virtude e de minha alma…  Que o meu par nunca se perca em juízo e que passe de pai para filho, de geração a geração.

O segundo par tem o mesmo sentido e objetivo do primeiro, mas ele não me pertence;  embora  o carregue comigo intensamente.  O segundo par de luvas pertence a alguém que pode estar em Jerusalém, Tóquio, Londres, Bagdá ou até mesmo em Rio Bonito… A dona dele pode morar em alguma dessas cidades do mundo…  Ela pode até ser minha vizinha ou ter estudado comigo o colegial inteiro…  Na verdade, eu não a conheço, embora a mesma se faça presente em meus sonhos todos os dias…  O segundo par de luvas pertence àquela que será a mãe e responsável tanto por mim quanto por meus descendentes…

Sou um solteiro que sonha em ser pai…  Sou um pai que sonha com muitos filhos…  Sou um sonhador que tem a loucura de ter uma Família…  Sou uma alma carente de amor.

Por isso eu afirmo que o primeiro par de luvas é o DEVER, enquanto que o segundo é a ESPERANÇA

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