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Como descrever um homem…
Além da fumaça e do cheiro do tabaco?

Como descrevê-lo…
Além de suas roupas e de seu cachimbo?

Como descreve-lo…
Se suas ideias não podem ser vistas?

Bem… a inteligência humana é prática;
Permitindo seu tutor julgar os fatos e os objetos;
Formulando algo conhecido como pré-conceito.

Mas, como julgar alguém…
Além da loção pós-barba e de seus trajes?

Torna-se dificílimo o julgamento;
Pois não consigo me descrever…
Não consigo me conceituar em vocábulos.

Sei que sou orgânico,
Embora não faça parte do organismo.

Sei que estou muito além daquilo…
Que vejo refletido no espelho.

Afinal, sou Homem…
Não sou matéria.

Não tenho como me medir…
Ou aos meus semelhantes.

Sou simplesmente uma imagem cheia de ideias
Que vai explodir…
E revolucionar a consciência do mundo.

Vejo somente…
Muita fé…
Muita dúvida…
E muita procura.

Aos sábios, ecléticos,
Moribundos da vida…
Que façam de si mesmos escritores,
Logo, aqui, eu mesmo escrevo:

Caminho por entre as flores,
Recantos do meu bem-dizer…
As saudades me abalam,
Perco-me entre as dores…
E amores da vida.

Sublime é o teu encanto
Em sua forma decadente…
Desejo-te impróprio,
Em querer-te bem.

Diante de ti,
Desarmo-me e entrego em lágrimas…
Talvez sejam lágrimas de descontentamento.
Todavia, as lágrimas são lágrimas.

De pétala a pétala…
Bem-me-quer…
Malmequer…
É assim que quebro a beleza do recinto;
Pois o adormecido acorda,
Enquanto o botão de rosa se cala.

De lua em lua,
Conto as estrelas.
E, em minhas contas,
Não passo das primeiras;
Pegando-me a recomeçar sempre.

O bueiro ejacula o odor da escória,
Enquanto o caminho por entre as vielas.
No fundo, ando dentro de minha memória falida.
A cada cômodo, ainda penso em ti,
Como a maldição da estátua…
Que se manifesta diante de seu criador.

De chuva em chuva,
Eu tento contar os pingos;
Atormentando minha culpa.
Embora não seja culpado,
Mesmo sentindo-me arrependido.

Da chuva, embora talvez não possa,
Eu me fiz em poça…
O mais absurdo, é que não estás chovendo…
Pois são minhas lágrimas que escorrem com o vento.

De estrela em estrela,
Caminho por universos distintos…
Formo uma constelação alucinante…
E caio no infinito de minha cela.
Mais uma vez, estou só…
Mas nunca sozinho!!!

De letra em letra,
Construo radicais, prefixos, sufixos, palavras!!!
Escrevo e descrevo-te.
Perco a noção das normas…
Minhas mãos tremem…
Pois, teu nome não escrevo mais.

De noite em noite,
Olho-me para o teto…
Penso e repenso…
Perco-me em respeito;
Pois só me vejo em juízo.

Numa esfera de preceitos,
Encontro-te somente…
Calo-me por entre os lábios…
Contraio, em falsete, os dedos,
Como o antropófago que saboreia…
Na plenitude da alma,
Sua dinastia.

De pétala em pétala,
Perco-me na conta,
Esqueço-me os sonhos…
Pois não sou mais eu…
Sou ninguém… Porque estou perdido!!!

Decerto, se tivesse de tampouco fosse,
Antes de mais nada, teria alguém…
Certamente, lhe mandaria flores…
Algumas palavras…
Ou um simples parabéns.

Entretanto, tenho-me mais nada;
Pois sou puro vazio…
Estou anônimo no passado…
Fincado no presente…
E inerte para o futuro.
Afogo-me no fundo do poço;
Sendo mais um cadáver submerso.

Como antropófago, encontro-me em dieta;
Pois não penso e nem como.
Fico-me, aqui, parado como uma estátua;
Praticando a arte da autofagia;
Consumindo-me aos poucos…
Faço-te esse agrado;
Porque ainda te amo…
Mesmo que seja de forma descontente!!!

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