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NADELSON COSTA NOGUEIRA JUNIOR

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Precisa-se de um amor…
Nada melhor que um amor
Para preencher o vazio de outro.
E que o recente seja mais forte
Do que aqueles que não foram.

De amores em amores
Vou rendendo minha colcha…
Minha colcha de retalhos.

Uma lembrança daqui…
Outra lembrança de lá…
E assim vai crescendo o desespero.

Precisa-se de linha.
Mas a linha que tenho é pouca…
Menor do que preciso.

De amores em amores
Vou rendendo minha colcha…
Minha colcha de retalhos.

Não sei se sou fraco no amor,
Ou se minha linha é imprecisa.
Decerto necessito terminar minha obra-prima.

Todavia, acho que tecerei o fio do universo
E cobrirei, com minha colcha, o mundo;
Pois essa é a matéria-prima de meu agasalho…
A total exigência nos detalhes.

E não há nada melhor que…
Um amor após outro amor;
Pois a linha estica,
Enquanto os retalhos aparecem.

Então te pergunto:
Desejas ser o ponto final de minha colcha?
Ou serás um detalhe guardado no tear da memória?
Bem… Não importas,
Desde que me ajudes a cobrir o mundo.

Precisa-se das mãos
Precisa-se das pernas
Precisa-se do corpo
Precisa-se da alma
Precisa-se do espírito.
Precisa-se da fala…
Precisa-se da escrita.

Precisa-se de dinheiro
Precisa-se de trabalho
Precisa-se de tempo
Precisa-se de respeito
Precisa-se de coragem…
E também de medo.

Precisa-se de arte
Precisa-se de vício
Precisa-se de diálogo
Precisa-se de bondade
Precisa-se de ritmo
E de grandes viagens.
Precisa-se de amigo

Precisa-se da fome
Precisa-se do frio
Precisa-se sentir…
Sentir o mundo com vontade!!!
Precisa-se ganhar
Precisa-se perder
Precisa-se saber dividir.

Precisa-se de fé
Precisa-se de Deus
Precisa-se do mundo…
E do mundo contigo.
Precisa-se saber
Precisa-se pensar
Precisa-se ser.

Precisa-se dar
Precisa-se pedir
Precisa-se dançar
Precisa-se dormir
Precisa-se acordar
Precisa-se seguir
Precisa-se acreditar

Precisa-se chorar
Precisa-se sorrir
Precisa-se nascer
Precisa-se cuidar
Precisa-se sumir
Precisa-se morrer
Precisa-se ressurgir

Precisa-se plantar
Precisa-se colher
Precisa-se cantar
Precisa-se ouvir
Precisa-se blefar
Precisa-se amar
Precisa-se unir.

Precisa-se comunicar
Precisa-se interagir
Precisa-se ensinar
Precisa-se aprender…
Pois, no fim, descobriremos que…
Precisa-se mudar
Para que as coisas fiquem as mesmas.

Triste é ter a consciência
De que se aproxima a hora de parar…
Pois as mãos se enrugam,
O corpo envelhece a cada instante
Numa constância metabólica descontínua.

Surgem as artroses,
A indigna cefaleia…
E as artérias entupidas.
É necessário um simples estalar de dedos…
Para o infarto fulminante ou um derrame.

As pessoas se afastam por medo
Ou pelo excesso de afeto…
Pois poucos são aqueles que estão preparados…
Para constante dialética da morte e vida Severina.
E assim, as camas, as cadeiras, os imóveis,
As propriedades materiais vão cedendo espaço ao novo
Ao custo doloroso daqueles que se foram.

A maioria se prende ao conceito natural da herança.
Mas todo bem necessita de afago e afeto…
Toda criatura tem que passar pela infância
E construir, na velhice, a perpetuação da lembrança.
Afinal, o homem não deixará pedra sobre pedra…
No intuito de consumir-se por inteiro;
Pois do pó viemos…
Ao pó voltaremos.

É diante desse mundo de cão…
Que me oponho todos os dias.
E pergunto-me se seria justo ter filhos,
Constituir uma família,
No intuito puro de perpetuar a lembrança
E deixa-la como herança àqueles que virão…
Na esperança incandescente de uma nova melodia.

Pois dividiria as funções do lar com a mulher amada.
Aprenderia a fazer quitutes para as situações mais sucintas.
Sem dúvida alguma, queimaria muito arroz e feijão.
Confundiria alecrim com manjericão.
Quebraria algumas louças na pia.
Cortaria o dedo ao fatiar a carne.
Morreria de ódio ao ver o solado do primeiro bolo.
E diante das dificuldades da vida,
Iríamos simplesmente aprendendo…
No complicado processo da tentativa e acerto.

Nos momentos difíceis,
Discutiríamos os assuntos homéricos de qualquer relação.
Trocaríamos insultos e elogios…
Riríamos como tolos, mais tarde,
Diante de tanta insegurança e falta de praticidade.
Isso aconteceria, porque nascemos filhos…
Somente filhos.

Chegaria o dia da gravidez,
E a futura mãe se sentiria feliz e injustiçada;
Pois deve ser dificílimo o período de gestação.
Afinal, a barriga cresce…
Os seios aumentam…
Todo o corpo de mulher se torna corpo de mãe.
Os hormônios estariam em taxas elevadíssimas.
E coitado seria de mim diante dos desejos e reclamações.

Teria que trabalhar dobrado
Para atender todos os caprichos maternos.
Perderia muitas noites de sono com a asma
Ou com os complicados processos de contração.
Minha vida estaria fadada a ser pai e marido.

Após o sacramento nupcial,
Viriam os nascimentos de mais três seres:
A mãe, o pai e o filho.
Pois, nesse mundo, só se nasce filho,
Somente filho.

E estenderíamos nosso maior tesouro para o mundo.
Ele ou ela, saberíamos somente na hora,
Não teria raça, religião, time de futebol ou partido político.
Seria a criança inocente aguardando o carinho e o amor dos pais.
Os pais seriam os adultos aguardando o chamado do filho.
E assim, a criança mudaria o mundo…
Enquanto o mundo mudaria a criança.

E a criança aprenderia a andar e falar.
Seus olhos sempre brilhariam de admiração pelo novo.
Sua arte seria correr pelos quatro cantos do mundo…
E desastre seria cria-lo de forma desigual.

Com o passar do tempo,
Ficaríamos velhos e acabados.
Nosso maior orgulho seria olhar a criança,
Que virou adulto,
Alterando o tempo e o espaço.
Partiríamos felizes,
Pela esperança depositada no mundo
E pelo cumprimento do nosso pacto de confiança e fidelidade.

Mas calma…
Daremos um passo de cada vez;
Pois não temos bola de cristal ou podemos ver o futuro.
Temos que ter fé, esperando, sempre, o melhor.

Digas-me:
Tens compromisso para sábado?
E se eu errar em alguma coisa,
Perdoe-me;
Afinal não nasci amante,
Mas tão somente filho.

No princípio era o vento.
Depois veio o zumbido do silêncio,
Enfeitando o seu andar.
E nesse ballet de desejos,
Novas forças surgiram
E novos escravos renasceram.

É no flagelo amordaçado
Desta alcova áspera e fria,
Que condecoro minhas súplicas…
As quais, por divinas, talvez
Sejam as últimas.

É com a caneta de pena
E a tinta pura da Índia,
Que começo, aqui e agora,
A desejar tudo aquilo…
O qual jamais me fora permitido:
Tocá-la além do simples lance de olhar.

Os meus dias se vão apagando,
Meu espírito se vai consumindo;
Enquanto meus olhos são obrigados
A lhe contemplar em provocação
Ou em verdadeiro desdenho.

E, como um idólatra rebuscado,
Desmerecido da misericórdia da adoração,
Fecho meus olhos e…
Desabafo meus sentimentos em pó.
Exaltando sua desconfiança.

Todavia, saliento esses versos
Em quatro movimentos de dom.
Pois para cada Estilo de escrita,
Exaltarei um poema
Como luxúria de minha antífona!!!

O mal do século me atenta
E me contamina por inteiro.
O desespero se faz por partes
E se salienta a cada gole de cerveja.
Pois, até para o menor dos poetas,
A vida se deixa por melhor em certeza.

E por entre as gafieiras,
Abatendo e sucumbindo meus sentimentos,
Surpreendo-me no limite da gentileza,
Proclamando a boêmia como seu altar…
E como o repouso de meu sofrimento.

Envolvido por desejos de Beleza,
Eu me entrego ao sepulcro (…)
Do último momento de desprezo.
Vivendo a tristeza única
De amar-te em sacrilégio.

Nesse cenário de pétalas de rosas
Com o cheiro de flores dos campos,
Confundido com a realidade do Enxofre,
Pego-me em pecado,
Desejando-te setenta vezes.

Desnorteado pelo amor que abala o monte,
Não sei, mais, quanta areia ainda resta
Para me alertar da proximidade da morte,
Ou de libertar-me com o seu último doce beijo.

Mas, numa sui generis de alegria,
Meus batimentos cardíacos soam …
Como instrumentos de aviso em guerra;
Preparando os soldados para o pior dos combates.
Tum… Tum… é a última chance, ou um infarto?

E na alegoria da cruz e da espada,
Como um cavallier nórdico e decente,
Eu gostaria de emanar a cultura e o bom senso;
Trocando a espada pela flor,
E os hinos de glória pelas cantigas.

Todavia, desnorteada se torna em cunho,
Manter a vida com a sensação de morte.
Pois amor de ilusão, assim se faz:
Condenação eterna…
até mesmo para o mais condecorado dos nobres.

Meu escudo é minh’alma.
Minha espada, minha fala.
O meu desejo, meus anseios!!!
Em meus ombros, não carrego estrelas
Ou ostento medalhas de bravura.
Mas seguro o peso do órgão amargo
Que mantém a infelicidade quase eterna em defeito.

Todavia, assim, nessa condenação absurda,
Eu imploro, por cada instante
De lembranças doce como o néctar do açúcar,
Que, na infelicidade, ainda me permitem a enxergar
A esperança entre oportunidades tantas,
Na loucura em ti amar.

E escrevendo uma Cantiga ou uma Trova,
Mediria as palavras em escalas de valores sublimes,
Qualificando a métrica e as rimas;
Esquecendo realmente de ti.

Alexandrino,
Redondilha Maior…
Redondilha Menor…
De que importa a forma sem conteúdo?
De que adianta possuir a beleza sem clareza?

É no despertar dos sinos,
Que desenvolto as Mil e uma noites,
Convidando-a para o casamento.
Mas, por ironia das épocas que virão,
Você não me disse um sim…
Muito menos… um não.

Pois, simplesmente, me ignoraste
Como o açougueiro faz com a carne que corta.
A qual ganha o pão diariamente.

Abandono o suicídio diário.
E abraço a bandeira do nacionalismo.
Edifico, como faria o indianista,
No auge de sua intelectualidade profana
E do amor ordinário.

Minha amada terra patrícia.
Donde o exílio vejo a relembrar!!!
Abarco o meu braço em veredas,
Triste a ti desejar.

Mil talentos me acenam
A admirar-te ao deslizar
Sobre as luxurias desse poema.
Em sermões de sepulcro,
Tendem-me a enterrar.

Assim, no anseio de meu enterro,
As velas chorariam por mim.
Mas, para escravos não há velas…
Somente os informativos nos jornais.
E assim seria o meu fim.

Trovariam sinfonias…
Nas alegorias de meus anseios.
Pois mulheres sorririam,
Enquanto tu continuarias no desprezo.

Afinal, todos os dias de amor se morre,
Quando não se tem o afago nas mãos
E os cabelos entre os dedos.
Deslizando num carinho imaginário,

Como o abraço que sufoca o peito,
A lembrança se faz por defeito
A legitimar o pacto não consumado.
Espero tocar-te o corpo
E libertar-te dos grilhões oriundos da angústia.
Todavia, em escárnio…
o amor escorre como água entre os dedos.

Aos sábios, ecléticos,
Moribundos da vida…
Que façam de si mesmos escritores,
Logo, aqui, eu mesmo escrevo:

Caminho por entre as flores,
Recantos do meu bem-dizer…
As saudades me abalam,
Perco-me entre as dores…
E amores da vida.

Sublime é o teu encanto
Em sua forma decadente…
Desejo-te impróprio,
Em querer-te bem.

Diante de ti,
Desarmo-me e entrego em lágrimas…
Talvez sejam lágrimas de descontentamento.
Todavia, as lágrimas são lágrimas.

De pétala a pétala…
Bem-me-quer…
Malmequer…
É assim que quebro a beleza do recinto;
Pois o adormecido acorda,
Enquanto o botão de rosa se cala.

De lua em lua,
Conto as estrelas.
E, em minhas contas,
Não passo das primeiras;
Pegando-me a recomeçar sempre.

O bueiro ejacula o odor da escória,
Enquanto o caminho por entre as vielas.
No fundo, ando dentro de minha memória falida.
A cada cômodo, ainda penso em ti,
Como a maldição da estátua…
Que se manifesta diante de seu criador.

De chuva em chuva,
Eu tento contar os pingos;
Atormentando minha culpa.
Embora não seja culpado,
Mesmo sentindo-me arrependido.

Da chuva, embora talvez não possa,
Eu me fiz em poça…
O mais absurdo, é que não estás chovendo…
Pois são minhas lágrimas que escorrem com o vento.

De estrela em estrela,
Caminho por universos distintos…
Formo uma constelação alucinante…
E caio no infinito de minha cela.
Mais uma vez, estou só…
Mas nunca sozinho!!!

De letra em letra,
Construo radicais, prefixos, sufixos, palavras!!!
Escrevo e descrevo-te.
Perco a noção das normas…
Minhas mãos tremem…
Pois, teu nome não escrevo mais.

De noite em noite,
Olho-me para o teto…
Penso e repenso…
Perco-me em respeito;
Pois só me vejo em juízo.

Numa esfera de preceitos,
Encontro-te somente…
Calo-me por entre os lábios…
Contraio, em falsete, os dedos,
Como o antropófago que saboreia…
Na plenitude da alma,
Sua dinastia.

De pétala em pétala,
Perco-me na conta,
Esqueço-me os sonhos…
Pois não sou mais eu…
Sou ninguém… Porque estou perdido!!!

Decerto, se tivesse de tampouco fosse,
Antes de mais nada, teria alguém…
Certamente, lhe mandaria flores…
Algumas palavras…
Ou um simples parabéns.

Entretanto, tenho-me mais nada;
Pois sou puro vazio…
Estou anônimo no passado…
Fincado no presente…
E inerte para o futuro.
Afogo-me no fundo do poço;
Sendo mais um cadáver submerso.

Como antropófago, encontro-me em dieta;
Pois não penso e nem como.
Fico-me, aqui, parado como uma estátua;
Praticando a arte da autofagia;
Consumindo-me aos poucos…
Faço-te esse agrado;
Porque ainda te amo…
Mesmo que seja de forma descontente!!!

Durante dias, semanas…
Fiquei aguardando teu telefonema,
Como o pescador da madrugada
Que depende do farol
Para retornar são e salvo em casa.

Contei as estrelas e os carneiros
Antes de adormecer…
Cultivei o mais alto grau de paciência
No âmago da impaciência.

Fui infantil desde o início…
Pois só uma criança se atreve…
A viver em devaneio o desconhecido.

Desejei-te,
Não somente em sonho,
Mas também na mente.

Para o poeta de ofício,
Só basta um acidente
Ou um mero acaso,
Para se apaixonar…

Mas paixão acidental não tem cura;
Além da conformidade
Ou da própria morte…
Pois assim a vida não teria a menor graça.

A surpresa maior se faz,
Quando me pego escrevendo
Seu nome na toalha de papel.

Escrevo-te, te aguardo…
Na esperança de receber…
O tão esperado telefonema.

Minha timidez é meu medo.
Meu medo justifica minha timidez.
Não é uma questão de ir ou vir,
De certo ou errado…

As coisas acontecem do nada.
Só basta aparecer algo diferente,
Que ela se alastra…
Como o freio da alma e da mente.

Será o medo do desconhecido?
Ou será o medo do medo?
Talvez seja só um detalhe.

Em alguns casos,
O coração dispara e o corpo fica dormente.
Parece que o chão vai se abrir.

O rosto fica todo avermelhado.
As pálpebras se abrem e fecham…
Repentinamente, dá vontade…
De ver tudo sumir ou a si mesmo.

Até acontecer o primeiro toque
Ou, simplesmente, o impulso…
De levar à realização do primeiro beijo.
Tudo parece não ter conserto.

Assim é a dialética do tímido:
Ver o mundo difícil desde o início…
Desconfiar de todos até que não haja mais confiança.

Conviver com a esperança
De não ser o primeiro a falar
Ou a Ter que puxar a conversa.

Por deus!
Não vejo motivo para tanto espanto;
Pois cai da lua…
Tropecei numa de suas crateras,
E lançado… Fui… dejeto ao espaço.

Bailei com as estrelas
Na inércia de minha trajetória.
Segurei as mãos dos anjos…
E fui vagando como moribundo
Pelo insensato infinito.

Meu espírito estava livre…
A ausência de gravidade me inspirava.
E, durante a quebra das leis físicas,
Aprendi o banjo tocar,
Encoberto pela seda das fadas.

Sem dúvida,
Muitos enamorados apontaram para mim
E exaltavam em alegria:
– É um cometa…. Uma estrela cadente!!!
Todavia, estavam todos enganados;
Afinal, era somente um pirilampo…
Cantando e enfeitando o espaço.

A cidadela se encontrava sitiada
Pelos bárbaros pagãos…
A multidão, desesperada,
Batia à porta da prefeitura…
Não pelo medo da fome ou da morte,
Mas pela possibilidade…
Do mundo deixar de ser cristão.

Os mecenas compravam os soldados
Para protegerem, não suas vidas,
Mas a arte explorada de seus artistas…
Estes, por findo, se abraçavam aos quadros
E às esculturas femininas sem cabeça.
A idolatria tomava todo o reino,
Enquanto que todos aclamavam o milagre em desejo.

De vento em pompa,
Veio voando da abóbada do teatro
O vislumbre de Vênus com suas vestes azuis.
Seu corpo encouraçado de brilho e beleza,
Encontrava-se elevado sobre o útero dos fracos,
A ostra, que, no interior, trazia consigo a pérola negra,
Que atraí a ganância dos homens,
Mas não reflete sensibilidade da luz.

Então a deusa passou pela multidão
E parou exatamente no centro do bulevar.
Num único gesto, ela estendeu a pérola, dizendo:
– Aquele que tiver a coragem de Perseu,
Que pegue sua espada e lute;
Pois o prêmio será o calor eterno da paixão;
Podendo o mesmo escolher qualquer mulher como esposa.

Viam-se os homens de olhos radiantes,
Hipnotizados pela beleza do amor personificado;
Mas essa não era uma época áurea de guerreiros valorosos
Ou de homens que falassem com deuses.
A luta já era praticada pelo medo e pela desesperança.
Assim poderia haver, sequer, um homem com alma de diamante?
– Perguntava-se a deusa já quase que decepcionada.

O vento suave rompeu a praça,
Enquanto que a deusa se virava,
Movimentando, quase que numa sinfonia,
Seus cachos dourados, que brilhavam como o sol.
Ela abaixava o braço, se preparando para partir,
Quando, do nada, lhe surgem o encanto e a ironia:
– Um fidalgo idoso e decadente; pois…
Suas vestes estavam em farrapos e encardidas.

– Perdoe-me o atraso, Mademoiselle…
Todavia, o corpo não acompanha mais
A virtude do espírito, como muito menos,
O calor alvoroçado de meu coração.
Outrossim, vo-la peço desculpas pelos trajes…
Como também pelo linguajar indigno…
Jaz mui tempo que não falo com os deuses.
– Dizia o fidalgo com o sorriso de criança.

– Que ironia de Zeus!!!
Venho até aqui para conseguir um herói,
Mas, pelo que vejo, só me enviaram um poeta.
De loucos o mundo está cheio,
Mas nem os loucos de hoje são…
Tão lunáticos como de outrora.
Por tal motivo, o esquecimento é certo para mim
E para os demais deuses do Olímpio.
– Afirmou Vênus em voz alta perante o povo.

No mesmo instante lhe retrucou o fidalgo:
– Vênus, deusa do amor, da beleza e da fertilidade…
Não chores pelo inevitável, mas mantenhas viva sua chama.
Lutarei contra os árabes e os pagãos e abro mão
Da pérola e da esposa resguardada…
Só lhe apresento um desejo:
-Quero-te um único doce beijo e depois partirei.

– Soldados abram os portões da cidade!
– Ordenou o fidalgo sem mesmices.
Quando os portões foram abertos,
Só se escutava o barulho comum da natureza;
Pois no âmago da burrice,
Não havia inimigo para lutar…
Até mesmo para a deusa,
As coisas se apresentavam sem clareza.

– Quem és tu, fidalgo?
– Perguntou a deusa desconfiada;
Pois somente um deus teria tamanho poder
De fazer aparecer e sumir uma legião inteira
Num piscar de olhos.

– Sou um dos filhos fugitivos de Cronos.
Fui amparado em segredo por Gaia.
Ando pelos reinos de Hades, do ar, da água e da terra.
Meu domínio está sobre todos, deuses e humanos.
Apareço na alegria e na tristeza,
Na saúde e na guerra.
De certa forma, Afrodite,
Sou seu amante anônimo e quase seu irmão.
Tudo que faço só tem sentido contigo,
Como o mesmo contigo em relação a mim.

– Todos os deuses cairão, como os Titãs.
Todo o Olímpio terá seu fim…
Sua conotação será um mero registro da história humana.
No futuro, os diamantes acabarão…
Assim, como a beleza, a juventude e a vida…
Nós seremos os únicos sobreviventes dessa alegoria;
Pois a humanidade começa e termina sob o afago de nossos dedos.

– Tu és a lua, eu sou o sol.
Tu és o céu, eu sou as estrelas.
Tu és o beijo, eu sou o medo.
Tu és o sonho, eu sou a fantasia.
Tu és o pó, eu sou a pedra.
Tu és o tudo, eu sou o vazio.
Tu és o sim, eu sou o não.
Tu és o sono, eu sou a espera.
Tu és o começo, eu sou o fim.
Tu és o Amor, enquanto que me chamo Solidão.

– Não fales minha querida…
Não sejas imprudente como a paixão carnal.
A humanidade precisa de ti para viver,
Enquanto que necessito somente…
De seu doce beijo para fantasiar…
E preparar os solitários para te receberem
Na plenitude do espírito;
Pois só valorizam o amor,
Aqueles que o conheceram tampouco.
– Disse o deus idoso à soberana Afrodite.
A deusa ficou parada,
Olhando para a Solidão,
Que segurou sua mão e lhe deu…
Um leve beijo nos lábios.
Logo após, o deus simplesmente…
A cortejou; dando-lhe um botão de rosa,
e montou no seu bucéfalo;
Seguindo para fora da cidade.
A deusa, simplesmente, desapareceu chorando;
Abandonando a pérola por entre a multidão;
Levando, no lugar, a flor.

* * *
Foi assim que nasceu a arte do cortejo
Através do buquê de flores…
Pelo menos, na minha humilde concepção.

Todavia, aqui estão escritas palavras…
Que não passarão de meras palavras…
Chaves falhas das relações cotidianas,
Que nos envolvemos durante todos os instantes.

Ora vem o mar, Ora vem ar,
Ora vem a terra; mas nunca vem o amar.
E nos atrevemos quase sempre a dizer…
Aquelas coisas que nunca deveriam ser ditas…
Aquelas palavras que certamente alguém as usará contra a nós mesmos
No momento de total desespero.

Chamaria esse sentimento de amor?
Chamaria meus objetivos de Utopia?
Diria que o meu trabalho é minha vida?
Não; pois aqui eu renego a tudo.
Desqualifico minha classe e minha categoria.
Abdico os totens racionais dos empíricos.
Renego qualquer tipo de lei que me limite como indivíduo.

E, no âmbito do afeto, abraço todos os presentes;
Dando-lhes beijos e sorrisos…
Dito-lhes minhas propostas:
– Vamos fazer nada… Nada daquilo que nos impeça de sonhar.
– Vamos construir novas estruturas, novos caminhos.

Mas quando vos digo novos caminhos,
Não penso em continuar o caminho de nossos pais…
Penso na realização de um caminho abstrato racional
Que se deixe interpretar por qualquer indivíduo,
Por qualquer cidadão ou ocasião.

Quando eu penso em novas estruturas,
Imagino, não a continuação da nossa história farda;
Mas na iniciação nula de um estilo de época avançado
Sem drama ou melodia determinada…
Afinal, as coisas acontecem como uma mera manifestação do acaso.

Abro mão de minha cidadania,
Dos meus ideais de decência…
E da minha apólice de seguros pessoais,
Se a partir deste instante,
Eu não poder olhar para o céu e dizer:
– Sou um Artista.

Mas isso é pouco para uma figura catalisadora de idéias.
Ser é condição de Manifestação,
E Manifestações vão, Manifestações são esquecidas…
Manifestações morrem.

Sou muito mais que uma manifestação;
Pois eu sou parte do vento e da chuva.
Sou a continuação daquilo que ainda não veio.
Afinal, como a humanidade,
Eu estou com as trevas e abaixo de Deus.

Como os artistas presentes,
Eu afirmo que não sou uma manifestação.
Pois estamos acima das normas e dos valores…
Somos nós que iniciamos as grandes revoltas, as ditas Revoluções.

Aqui eu ratifico:
– O mundo não é nada sem a nossa inspiração.
– O Homem não é nada sem o ar de nossa graça.

Não somos uma mera manifestação do acaso.
Não somos amigos do belo.
Não somos o caminho da perfeição…
Somos meramente o inconsciente das sociedades…
Somos poetas, pintores, músicos, teatrólogos…
Somos a exuberância da expressão humana.

Por Favor, criaturas do futuro,
Não nos confundam com os intelectuais,
Muito menos com as crianças,
Por que nós somos a Arte por si mesma.

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